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O desabafo de Bruno Fagundes: ‘Novela foi uma experiência de dor’

Filho de Antonio Fagundes, o ator investe no teatro e ganha espaço em produções da Netflix, como ‘Sense8’, das irmãs Wachowski, e a brasileira ‘3%’

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 set 2017, 16h31 - Publicado em 8 set 2017, 16h25

Aos 28 anos, Bruno Fagundes já tem metade da vida dedicada ao teatro. Na televisão, mídia que fez do pai, Antonio Fagundes, um nome nacionalmente conhecido, tem uma curta experiência: protagonizou, em 2014, a novela Meu Pedacinho de Chão, escrita por Benedito Ruy Barbosa e dirigida por Luiz Fernando Carvalho na Globo. Apesar da equipe de peso, a experiência, diz, foi “muito dolorida”. E, depois dela, não surgiu mais nenhum convite para voltar à TV.

“Foi um processo difícil para mim, eu assumo. Em seguida, apesar de a novela ter ido bem e meu personagem ter recebido boas críticas, eu não tive a oportunidade de fazer nem mesmo um teste. Isso me frustrou, porque acho que entreguei um bom trabalho. Então, decidi voltar para onde eu me sentia seguro, que era o teatro.”

E Bruno de fato não parou. Ele já produziu e estrelou peças bem recebidas pela crítica, como Vermelho, Tribos e Senhor das Moscas, nem sempre junto ao pai. Fez ainda uma ponta em Sense8, a série dirigida pelas irmãs Wachowski (Matrix) para a Netflix, e foi chamado para a segunda temporada de 3%, primeira produção nacional do serviço de streaming.

É sobre teatro, TV e Lana Wachowski, com quem teve um tête-a-tête dos mais interessantes, que Bruno Fagundes fala a VEJA:

 

Você tem feito mais teatro que televisão. É uma escolha? É. Fiz uma novela das 6 (Meu Pedacinho de Chão) em 2014 e foi uma experiência de dor e de delícia. Aprendi muito, fiz um personagem relativamente grande, mas muito dolorido, porque foi a primeira vez que eu lidei com a pressão da TV, da obrigação de se ver todo dia. Foi difícil.

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O que o ajuda a ser escalado na TV? Não existe uma fórmula clara para trabalhar em TV. Nosso mercado não se pauta pela meritocracia. O sistema de celebridade confundiu as coisas. Há emissoras que têm escalado pelo número de seguidores nas redes sociais. Tive a sorte de ser visto no teatro.

Bruno Fagundes
O ator Bruno Fagundes, na Livraria da Vila, São Paulo (Felipe Cotrim/VEJA.com)

Por que seu pai e você abrem mão das leis de incentivo ao teatro? É uma posição ideológica. A gente vê muitos colegas que ficam dependentes da lei, da aprovação do governo e de buscar patrocínio de uma empresa. Meu pai fala disso há anos: a lei de incentivo, a Rouanet, deturpou o mercado teatral. Quando você tem uma grande empresa patrocinando, você, como artista, não se preocupa tanto com o resultado – afinal, o espetáculo está pago. A nossa opção é reduzir os custos para que a bilheteria sustente a peça. Agora, com a lei que limita a meia-entrada, está mais fácil. Antes, chegamos a ter 90% de meia-entrada.

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Como foi fazer Sense8, série da Netflix? Cheguei com humildade ao set, em um hotel na zona sul de São Paulo, achando que ninguém saberia o meu nome. Foi o oposto. Fui tratado com carinho e respeito, algo que eu nunca experimentei no Brasil. Nunca, nunca, nunca. Era uma equipe de 120 pessoas, de diferentes nacionalidades, e todo mundo me chamando pelo nome. “Bruno, você está confortável?”, “Bruno, você quer comer alguma coisa?”. Fiquei muito surpreso com o cancelamento da série.

E como foi filmar com as irmãs Wachowski? A gente estava gravando e repetiu um milhão de vezes a cena. Uma hora, a câmera saiu de foco, a Lana veio até mim e falou, “Olha, as máquinas são imperfeitas. Mas sabe o que são perfeitas? As pessoas. Você foi perfeito, mas a câmera saiu de foco. Você se incomoda de gravar de novo?”. Eu quase chorei.

Como foi o beijo que você deu em outro ator? Me perguntaram se tive medo. E eu vou ter medo de beijo? Que coisa mais absurda. Eu sou um ator.

Bruno Fagundes
O ator Bruno Fagundes, na Livraria da Vila, São Paulo (Felipe Cotrim/VEJA.com)
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