Racismo estrutural é aquele que formaliza determinadas práticas na sociedade, colocando determinado grupo em situação subjugada, muitas vezes sem se dar conta disso. Um exemplo disso aconteceu no programa É de Casa, que foi ao ar no sábado, 11, na TV Globo. A apresentadora Talitha Morete conheceu a cozinheira Silene, que vende cocadas em um salão de beleza que frequenta no Rio de Janeiro, e a convidou para fazer a receita no programa. No fim, Silene estava sentada interagindo com os demais apresentadores, quando Talitha indicou que ela deveria se levantar e servir a todos. “A dona da cocada vai fazer as honras da casa. Vai servir todo mundo, Silene! Por favor, pode oferecer, porque está todo mundo querendo”, ordenou.
Igor Sacramento, pesquisador e professor da UFRJ, explica preconceito ocorrido: “O racismo também é estrutural quando práticas corriqueiras atribuem ao corpo negro o lugar da subalternidade escravocrata. Por que a jornalista branca não pôde servir? Por que a apresentadora não pôde fazer as honras da casa se ela é a apresentadora do programa, o que incluía servir pessoas negras? Por que a mulher negra, vencedora do concurso de melhor cocada do famigerado programa, foi interpelada, convocada e constrangia a servir? Por que as tais honras da casa (cozinhar, lavar, passar, servir, cuidar, sorrir) num país escravocrata como o nosso é tarefa das empregadas domésticas e não das donas e donos de casa? O apresentador negro tentou resolver, sem problematizar, sem questionar. Assumiu o lugar servil, docilizado, disciplinado. Silene é interpelada a servir porque é negra. Isso não é uma questão de educação apenas, mas do racismo que essa estrutura todas as relações, até fazer as honras da casa”.
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