Mulher de Milton Gonçalves denunciou racismo na TV há 26 anos
Em matéria da VEJA em 1996, Oda Gonçalves declarou: “Queria vê-lo beijar a Vera Fischer na boca no horário nobre”

Em depoimento a VEJA na edição do dia 20 de março de 1996, Oda Gonçalves, que foi casada com o ator Milton Gonçalves desde 1966 e com quem teve três filhos, relatou como era lidar com o preconceito da sociedade: “Até conhecê-lo, nunca havia prestado atenção ao preconceito racial que existe em nosso país. Só quando começamos a namorar é que percebi o que acontecia. Minhas amigas da faculdade me diziam: ‘O Milton é preto, mas é limpo, é cheiroso’”.
Oda também falou sobre a dificuldade de atores negros de ingressarem na TV e terem papéis de destaque – um problema que persiste ainda hoje.
“Queria vê-lo beijar a Vera Fischer ou a Maitê Proença na boca no horário nobre. Ou uma atriz negra ser beijada por um galã branco. Há muitos atores mais velhos que o Milton que fazem papel de galã, mesmo estando barrigudos ou com a barba branca. Então, não é um problema de idade, e sim de cor. Atores homossexuais também podem ser galãs na televisão sem problema. A Globo está cheia de galãs homossexuais, e não tem nenhum galã negro. Por favor, não misturem a problemática homossexual com o problema do negro. Negro não é minoria. Não tenho nada contra. Só quero espaço para os negros, oportunidades iguais para todos os atores”.
Milton morreu nesta segunda-feira, 30, aos 88 anos. Considerado um dos maiores atores de sua geração, ficou conhecido por trabalhos em novelas como O bem-amado (1973) e as primeiras versões de Pecado capital (1975) e Sinhá Moça (1986). Com Oda, teve os filhos Maurício, Catarina e Alda.
