Médico comenta os efeitos ‘milagrosos’ de novo remédio para emagrecimento
Endocrinologista Lucas Costa, referência em reposição hormonal, fala do fármaco semaglutida 2,4 mg

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nesta segunda-feira, 2, um medicamento capaz de reduzir até 17% do peso corporal. Chamado de “remédio milagroso” para quem luta desesperadamente contra a balança, o fármaco semaglutida 2,4 mg, da farmacêutica Novo Nordisk, foi autorizado para o tratamento de pessoas com sobrepeso (e comorbidades) e obesidade. Lucas Costa, endocrinologista com curso de tratamento da obesidade em Harvard, comenta sobre o uso do medicamento a pedido da coluna.
O medicamento é usado no tratamento de obesidade. Mas para quais pessoas é indicado? A substância ativa semaglutida já existe no Brasil para o tratamento de diabetes, em outra dosagem. A grande novidade é que ele foi liberado para o tratamento da obesidade na dosagem de 2,4 mg, subcutâneo, semanal. É uma injeção que a própria pessoa aplica no abdômen, com uma agulha muito fininha. É indicado para pessoas com obesidade, ou seja, com o índice de massa corporal maior que 30, mas também para as que têm IMC (Índice de Massa Corporal) maior do que 27 e tenham alguma comorbidade. Hoje mais da metade da população está acima do peso. E um a cada cinco brasileiros está com obesidade.
Ele poderia servir para motivos estéticos? Não. É muito importante que a medicação seja usada com indicação médica. Existem contraindicações e deve ser usado para o tratamento de uma doença. No caso da obesidade, que é uma doença crônica, ou o sobrepeso. A gente deve sempre desencorajar o uso estético.
Quais os efeitos colaterais? Alguns bem comuns, como náuseas e alterações gastrointestinais. Mas também pode provocar prostração, dor de cabeça…
Como ele atua no corpo? Ele tem dois mecanismos de ação principais. O primeiro atua diretamente no hipotálamo, onde fica o centro regulador da saciedade, pois muitas pessoas com obesidade têm uma alteração na sensação de saciedade. E tem uma ação no próprio trato gastrintestinal, retardando o esvaziamento do estômago. A pessoa se sente saciada por mais tempo.
Quem usa o medicamento precisa mudar velhos hábitos para manter o emagrecimento? A obesidade é uma doença crônica, assim como hipertensão ou diabetes. O ideal é que a pessoa se exercite, se alimente bem… Mas, se por algum motivo a pessoa não consegue, ainda sim a medicação é importante.
Este medicamento pode ser o “milagre” para auxiliar a perda de peso sem intervenções cirúrgicas? O grande avanço é que estamos vivendo uma revolução no tratamento da obesidade pela eficácia. Habitualmente os medicamentos que tínhamos disponíveis levam à perda entre cinco e dez por cento do peso corporal. Este agora leva a uma perda de 17% do peso corporal e, em 30% das pessoas, a uma perda maior do que 20% da perda corporal. Então a analogia tem algum sentido, é equivalente a uma cirurgia bariátrica chamada gastrectomia vertical.
Qual é o perfil do gordo brasileiro? Hoje a obesidade está disseminada e crescente, acomete desde crianças e adolescentes, igualmente homens e mulheres de todas as faixas etárias. A região do país não é um grande determinante. E, infelizmente, a obesidade está crescendo também nas classes sociais mais baixas, principalmente porque alimentos como farinha e açúcar são relativamente baratos e mais acessíveis.
