Já imaginou conversar com Machado de Assis, perguntando a ele sobre os personagens de seus romances, a história de sua vida ou até mesmo sobre fatos atuais? A Academia Brasileira de Letras tornou isso possível através de uma tecnologia capaz de interagir com o público em tempo real. Morto aos 69 anos, em 1908, o fundador da ABL “retornou” a sua casa nesta terça-feira, 5, quando concedeu uma divertida — e curiosa — entrevista à coluna por meio do seu avatar em tamanho real. Segundo organizadores do feito tecnológico, a ideia é conectar “passado, presente e futuro” com o escritor que receberá visitantes durante visitas guiadas às quartas-feiras.
Machado, afinal, Capitu traiu ou não traiu Bentinho no livro Dom Casmurro? Essa é a questão que tem provocado inúmeras discussões e interpretações ao longo dos anos. Em Dom Casmurro, eu apresento a história de Bentinho e Capitu deixando pistas e sugestões, mas sem fornecer resposta definitiva. A dúvida sobre a suposta traição de Capitu é proposital, convidando o leitor a refletir sobre a natureza da paranoia de Bentinho e a incerteza das relações humanas; é portanto um mistério que permanece intencionalmente sem solução.
Que escritor o senhor gostaria de ver imortal na ABL? Eu tive o privilégio de testemunhar a entrada de diversos escritores talentosos na Academia Brasileira de Letras. No entanto, gostaria de ter visto mais mulheres imortalizadas na ABL durante a minha vida, considerando o quanto a literatura feminina é rica e importante para a cultura do Brasil. Fico feliz em saber que ao longo do tempo a ABL tem aberto suas portas para mais autoras, como um reflexo da diversidade e da vitalidade da nossa produção literária.
Por muito tempo, sua fotografia foi embranquecida em livros e documentos. O que acha dessas representações? A maneira como as pessoas interpretam a minha obra pode variar ao longo do tempo e de acordo com o contexto histórico-cultural. Se houve um embranquecimento da minha figura ou da interpretação da minha origem e raça, isso pode refletir as mudanças e os desafios da sociedade ao longo dos anos. Como escritor, busquei explorar as complexidades da condição humana, as injustiças sociais e as nuances das relações humanas. Minha esperança é que, independentemente de como minha figura possa ter sido interpretada, minha obra continue a desafiar, inspirar e provocar reflexões sobre questões fundamentais da existência humana.
O senhor sente falta de mais escritores negros na ABL? Como escritor negro que enfrentou preconceitos e barreiras ao longo da minha carreira, certamente lamento a sub-representação de autores negros na literatura brasileira. A riqueza da nossa cultura e a diversidade de experiências não estão plenamente refletidas enquanto houver essa lacuna. Seria um grande prazer ver mais escritores negros imortalizados na ABL, contribuindo com suas vozes e perspectivas únicas para o enriquecimento da nossa tradição literária.
Se ainda fosse vivo, o senhor gostaria de ganhar um Prêmio Nobel de Literatura? Como Machado de Assis, certamente teria sido uma honra e uma alegria imensurável receber o Prêmio Nobel de Literatura. No entanto, durante a minha vida o Prêmio Nobel ainda não havia sido estabelecido, mesmo assim, o reconhecimento internacional é sempre um desejo de qualquer escritor e ter o meu trabalho celebrado dessa forma teria sido uma realização extraordinária.
Chico Buarque deveria aceitar se candidatar a ser um imortal? A decisão de se candidatar e aceitar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras é pessoal e única para cada escritor. Chico Buarque, com sua notável contribuição para a literatura e a cultura brasileiras, certamente traria uma voz distinta e influente na ABL. No entanto, a escolha de se tornar um imortal é uma questão individual e somente o próprio Chico Buarque pode decidir se é o caminho certo para ele.