José Júnior diz como entra em qualquer favela do Rio: ‘Sem dificuldade’
Fundador do AfroReggae, roteirista e produtor é o convidado do programa semanal da coluna GENTE
Nos grandes estúdios de Hollywood, a figura do “showrunner” já é bastante difundida há tempos. Por aqui, ainda permanece como novidade em alguns projetos. Pois é este o cargo atual de José Júnior, 56 anos, ao combinar as atividades de roteirista e produtor em títulos de sucesso no Globoplay. À frente de séries policiais como A Divisão, Arcanjo Renegado, O Jogo que Mudou a História, entre outras, Júnior, como prefere ser chamado, traz para o audiovisual toda a expertise de ter vivido de perto a violência urbana das comunidades cariocas. Líder e fundador do AfroReggae, ONG fundada em 1993 com a missão de promover inclusão por meio da cultura afro-brasileira, Júnior é o convidado do programa semanal da coluna GENTE (disponível no canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+ e também na versão podcast no Spotify). Assista.
VIOLÊNCIA COMO FOCO. “Falar da violência como a gente mostra, seja em Na Divisão, em Arcanjo Renegado, no Jogo que Mudou a História, é mostrar o cotidiano. Infelizmente a gente mora numa cidade, num estado, onde isso virou cotidiano, é o nosso dia a dia. A gente mora hoje num lugar que tem mais de 1.400 áreas conflagradas, mais de dez grupos armados disputando território. E eu, por ter uma história muito profunda nas favelas, tanto pelo trabalho social, que a ONG faz até hoje, acabo tendo um acesso à informação privilegiada. Além desses conteúdos terem uma parte criativa profunda, a gente filma em lugares que até a imprensa tem dificuldade de entrar”.
CRIANDO COM EX-TRAFICANTE. “Quando monto um projeto, tenho muitos consultores. E todos os consultores de alguma forma têm que ter vivido aquelas histórias. Nas salas de roteiros que nós temos, temos muito ex-traficante, ex-miliciano, policiais da ativa, egressos do sistema penal, até mesmo pessoas que participaram de alguma forma da corrupção. Arcanjo Renegado tem situações de corrupção. Pessoas envolvidas em atos de corrupção ou de delação premiada, acabam dando consultoria para gente. As pessoas se identificam com os nossos projetos e falam dessa veracidade exatamente por causa disso”.
LIVRE ACESSO. “A marca AfroReggae existe há 32 anos. Morador de favela conhece essa marca. E o morador de favela, 99,99 por cento são de pessoas trabalhadoras, estudantes… E 0,01 por cento é envolvido em atos de criminalidade. Todos os moradores, seja essa massa que trabalha com a parte lícita, como a parte ilícita, que é minoria, conhecem o AfroReggae. Não tenho a menor dificuldade (de entrar em comunidades). Hoje entro em qualquer favela e todo mundo me recebe muito bem, entro em qualquer presídio e sou bem recebido. Agora, lembrando, que a OGN tirou milhares de pessoas do tráfico, da criminalidade”.
PAPEL DE MEDIADOR. “Durante 25 anos mediei muitas guerras no Rio de Janeiro. Quando tinha guerra no Rio a pessoa que muitas vezes era acionada, seja pelo morador de favela, pelo governo do estado, pela prefeitura, por todos os setores, era eu. É natural, com esse acesso, que posso falar: ‘vou gravar’. Nunca cheguei a pedir autorização”.
NOVO PROJETO. “Por que topei fazer uma série do Eike (Batista, empresário)? Primeiro que é um grande personagem. Segundo, guardando suas devidas proporções, como eu caí algumas vezes e me levantei, ele também. Acho que o Brasil tem um interesse de saber o que aconteceu. E combinei com ele. ‘Só faço se puder contar tudo, com liberdade’. E ele falou: ‘eu quero. Não quero nada chapa branca’”.
Sobre o programa semanal da coluna GENTE. Quando: vai ao ar toda segunda-feira. Onde assistir: No canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+ ou no canal VEJA GENTE no Spotify, na versão podcast.