A poucos dias do fim de Renascer, Edvana Carvalho, 56 anos, já se prepara para estrear uma nova peça no teatro, mas ainda espera cair a ficha do seu sucesso como Inácia. Apesar de participação em outras produções da TV Globo, como Malhação (2015) e Pega Pega (2018), foi com o remake escrito por Bruno Luperi que a baiana, cria do Bando de Teatro Olodum, ganhou de vez o grande público. A constatação é da própria Edvana que, em conversa com a coluna GENTE, se emociona ao lembrar da reação do público, minimiza as críticas ao folhetim, e celebra a inclusão do “empoderamento da mulher preta” na versão adaptada da trama de Benedito Ruy Barbosa, exibida originalmente em 1993.
Como foi o convite para Renascer? Por não ter Léa Garcia (1933-2023), que infelizmente não está entre nós, eu fui pensada. Tinha feito um teste para a novela anterior, Terra e Paixão, mas não deu certo e fiquei esperando qualquer outra obra. Até que, quando estava no Ceará fazendo o curta Fenda, de Lis Paim, fui convidada para vir ao Rio, porque o Gustavo [Fernandez, diretor artístico] queria me conhecer. Quando voltei, fiz o teste para a primeira fase e na resposta me disseram que tinha passado para as duas.
O que foi Renascer para a senhora? Inácia é uma daquelas personagens que fazem divisor de água na carreira de qualquer pessoa. Foi uma apresentação para o grande público brasileiro que não conhecia meu trabalho. E foi uma honra fazer um personagem que tinha sido da nossa querida Chica Xavier (1932-2020), ou que seria feito pela Léa Garcia. Foi um momento de me colocar à prova como atriz.
Como foi levar o Candomblé para a novela? Quis fazer essa homenagem à minha ancestralidade como mulher preta e levar o Candomblé para o horário nobre da TV Globo, mostrar como é lindo e acolhedor. Por mais que um brasileiro possa nascer de pele clara, ele tem algum povo originário, alguma descendência com os povos africanos, está no nosso DNA. O que essa novela trouxe de beleza foi essa união entre as religiões, um padre, um pastor e uma mãe de santo vivendo na mesma comunidade, tomando cafezinho com o povo.
Teve medo da recepção do público? Tive muito medo, até que o primeiro capítulo foi para o ar. A gente se cercou de assessoria de dentro da religião, tanto em Salvador como no Rio, para não errar, ou, pelo menos, tentar não errar.
E quando passou este medo? É muito forte você ouvir de uma pessoa que nunca viu na vida que você mudou a vida dela com uma personagem. Entendi que a Inácia ganhou os brasileiros. Gente com discursos políticos diferentes gosta da Inácia, de sexo diferente, de cores diferentes… No início, pensei que ia agradar a galera de santo, ia agradar a galera de movimento preto por eu ser uma mulher preta nessa representatividade, mas não é só isso.
A primeira fase foi muito elogiada pelo público, mas na segunda vieram as críticas. Como vê isso? É normal, quem deve falar sobre isso é quem está contando os pontos, quem está gastando dinheiro para fazer a novela. A gente, ator, não tem tempo para isso. Só venho para casa para dormir.
O roteiro passou por alterações ao longo da novela. A história da sua personagem sofreu alguma mudança? Muitas. Muitas coisas que Chica Xavier não poderia fazer há 30 anos, porque a sociedade brasileira não estava aberta a isso. Quando chega na segunda fase, a minha Inácia já foi casada, teve uma filha, teve uma história. Não foi uma mulher preta que só viveu na casa do patrão e não teve vida própria. Isso são mudanças significativas para a gente tirar essa ideia de mãe preta. Houve várias mudanças e ainda terá até os últimos capítulos, depois da morte de José Inocêncio. E teria sido um absurdo se a gente tivesse feito um remake copiando o que foi feito antes. O remake não é uma cópia.
Como está o sentimento nesse fim de novela? Olha, a gente acabou de gravar as cenas de sábado, 31, e de lá para cá estou me sentindo num limbo, sabe? Deve ser assim quando a pessoa morre e acorda no lugar e não sabe o que está fazendo ali, sou eu nesses dias, é um desmame, um ano só pensando nisso.
E quais são os próximos projetos? Do dia 11 ao dia 22 de setembro, todas as quartas e quintas, às 19h, estarei no Teatro Glauce Rocha, no Centro do Rio, fazendo o meu espetáculo solo Aos 50 quem me aguenta. A peça fala da questão da mulher preta, chegando na maturidade dos 50 anos, trazendo a questão da menopausa, dos hormônios, do ninho vazio e do empoderamento da mulher.