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Giuliana Morrone em nova carreira: ‘Nunca quis ser viúva da TV Globo’

A jornalista, que acaba de lançar seu primeiro livro, conversa com a coluna GENTE

Por Mafê Firpo 17 set 2024, 07h00

Giuliana Morrone, 57 anos, que durante duas décadas figurou no quadro de correspondentes da TV Globo, lança seu primeiro livro, Mitos e Verdades em ESG (ed. Planeta Estratégia). Em sua trajetória profissional, a jornalista teve a oportunidade de conhecer vários cantos do mundo. Em 2023, no entanto, Giuliana foi demitida da emissora, o que lhe deu ânimo para começar uma nova estrada. Agora especialista em sustentabilidade de empresas, ela fala como encontrou um novo propósito após sua demissão, pregando por diversidade e desenvolvimento sustentável. Confira a conversa com a coluna GENTE

Em seu livro, a senhora comenta sobre a alarmante situação ambiental no mundo. Na sua opinião, após duas grandes tragédias recentes, as enchentes no Rio Grande do Sul e as queimadas no Cerrado, o Brasil está mais consciente? Quando a gente falava na questão climática até então aqui no Brasil, ainda via resistência grande, porque a imagem que a gente tinha, aquele urso polar numa ilhota de gelo sozinho, não chegava ao brasileiro. Quem já viu um urso polar na vida? Mas veio o cavalo Caramelo, que ficou sobre um telhado, imagem fortíssima e impactante. Pela minha história profissional, imagem aproxima e ajuda a gente a entender a realidade. As empresas precisam ficar mais conscientes em relação ao cumprimento de metas climáticas. Isso, inclusive, pensando no faturamento, na sustentabilidade financeira das empresas. Nesse ponto, as empresas brasileiras ainda têm um longo caminho para melhorar. 

Estamos vivendo uma época em que empresas buscam mais diversidade. Como explicar que ainda se vive tempos de intolerância? Será que a gente está já avançando em relação a isso? Tenho cá minhas dúvidas. Vou usar um exemplo internacional. A Ford, recentemente,  recuou nas metas de diversidade. Esse é um movimento que tenho visto em muitas empresas, principalmente nos Estados Unidos. É extremamente preocupante essa questão, é uma coisa do humano que precisa avançar com muita paciência e perseverança, porque alguns vieses são inconscientes.  

Como acompanha as eleições presidenciais nos Estados Unidos quando a pauta é a diversidade? Olha, é fantástico quando surgem pessoas como Kamala Harris que vêm aí para mostrar que nós podemos ser mais iguais, merecemos enquanto humanidade sermos mais iguais. Mas veja que aqui no Brasil, os desafios em relação à questão da mulher, por exemplo, ainda são extremamente graves. O pessoal que trabalha com sustentabilidade gosta de usar termos em inglês, socialwashing. É claro que isso não deixa de ser uma enganação. Se a empresa não consegue levar para direção essa pluralidade, então algum problema tem ali.

Recentemente, veio a público denúncia de assédio do ex-ministro dos Direitos Humanos. Isso mostra que questões como essas estão longe de serem superadas por aqui, não? Ainda há imaturidade na nossa sociedade, falta de consciência. Esse escândalo envolvendo dois símbolos do nosso país, Silvio Almeida e Aniele Franco, símbolos por diferentes motivos, não deve se ater ao privado, que a justiça seja feita pra gente avançar também em relação a temas de diversidade, com a maior transparência possível.

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A senhora sofreu assédio durante sua trajetória profissional? Acho que tem uma questão geracional determinante entre a minha geração e a sua, por exemplo.Já houve muito avanço em relação a isso; e as empresas, por questões externas, pressões externas ou por um desejo interno de desenvolvimento, de aprimorar sua ética, criaram seus departamentos de compliance, apertaram os limites e ficaram com um olhar mais vigilante sobre a ética. Isso mudou em relação ao que eu vivia. Quando eu vivia, era isso… Davam uma cantada, o que custa… Se colar, colou e tudo mais.

Em 2023, a senhora foi demitida da TV Globo depois de quase duas décadas. Como foi isso? Trabalhei 24 anos na empresa. Por um lado, claro, foi uma surpresa, mas tive uma coisa intuitiva e que recomendo para todo mundo. Desde quando entrei na empresa, nunca ocupei o escaninho, aquele armário que tem para os funcionários. Sempre tive uma percepção de que aquilo era do acionista, do dono, não era meu. Aquilo não é meu, aquilo não me pertence. Isso facilitou na minha cabeça, não fiquei apegada. Quando fui demitida, não estava vivendo um momento legal na empresa, sabe? Não estava me sentindo produtiva, queria experimentar coisas novas.

Ficou alguma mágoa? Não. Nunca quis ser viúva da TV Globo, nunca. O que é ser viúva da TV Globo? Sai da TV Globo e passa o resto da vida como ombudsman, analisando erros e acertos, acompanhando tudo o que acontece na TV Globo. Saí e  no dia seguinte estava mergulhada em estudos sobre sustentabilidade e acreditando que estava numa nova jornada muito bacana. Fui sábia nesse ponto de cuidar de mim mesma, de não permitir que encerramento de uma jornada fosse me afetar de forma negativa.

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