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Gerente do Valle Nevado: ‘Turista brasileiro é como poodle’

A coluna conversou com Rodrigo Côrtes sobre os hábitos polêmicos no maior centro de esqui do Chile

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 Maio 2024, 21h24 - Publicado em 4 set 2023, 07h00

Rodrigo Côrtes, gerente de operações hoteleiras dos três hotéis que formam o Valle Nevado Ski Resort, além dos nove bares e restaurantes, trabalha há 15 anos no point de inverno dos brasileiros no Chile. Amante da montanha, já viveu na Espanha, em Portugal e na Itália. Esta temporada marca o fim do processo de recuperação judicial do complexo de esqui, agora administrado pela americana Mountain Capital Partners (MCP), a mesma que cuida das melhores pistas de neve no Colorado e em Utah, nos Estados Unidos. Em conversa com a coluna, Côrtes relata os choques culturais que há entre os turistas que invadem as montanhas de neve em busca de diversão nesta época do ano.

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O ambicioso plano da primeira ‘low cost’ a operar voos regulares no país

Como vê esse movimento de invasão de brasileiros no Valle Nevado? Acredito que o Valle tenha se convertido no centro do Brasil no Chile. Para a gente é um mercado muito importante, ainda mais na parte hoteleira. O mercado brasileiro representa aproximadamente 60% das nossas reservas. Claro que durante a pandemia isso mudou muito, ninguém podia viajar. Mas este ano tivemos uma invasão de brasileiros.

Qual é o perfil do turista brasileiro? É como um segundo Brasil aqui. Nos restaurantes só se escuta falar português. E falam alto. A cultura brasileira é muito mais alegre, como a dos italianos, dá para notar a presença. Nós, chilenos, somos mais calmos e recatados.

O que os brasileiros buscam no Valle Nevado? Muitos vêm para a neve, depois aproveitar o hotel. Os brasileiros desfrutam muito do hotel, da piscina, cerveja, vinho, e de nossa gastronomia.

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Por muito tempo o destino turístico de brasileiros no inverno foi Bariloche, na Argentina. Mas, nos últimos anos, Valle Nevado tomou a dianteira nessa preferência. Por quê? Concordo, antigamente o brasileiro ia ao sul da Argentina. Descobriram o Valle Nevado. Aqui primeiro temos a condição de neve, por altitude, por altura, isso faz com que seja muito mais seca. É uma neve que esquiadores buscam por todo o mundo. Essa condição faz com que tenhamos a melhor neve. E Valle Nevado oferece uma experiência completa. Alimentação, esqui, mercado, alojamento, serviço e comida. Aqui o turista pode esquiar, tomar algo no bar, depois ir para a piscina.

O pão de queijo é uma adaptação para receber o turista? Totalmente. Estamos adaptando os nossos serviços ao nosso mercado mais importante. Temos pão de queijo e às vezes até feijoada. Para reservar o restaurante, temos uma pessoa que fala português. Em cada recepção, temos alguém que fala português. Em cada restaurante, também. Além disso, os funcionários estão se acostumando com o portunhol.

Como os brasileiros se comportam no dia a dia? Bom, por exemplo no café da manhã, que começa às 7h, o turista americano já está na porta às 6h45. Encerramos o café às 10h. O brasileiro costuma chegar às 10h15, batendo na porta, gritando para abrirmos. Não gostam de normas para nada! A gente diz: ‘Senhor, sua reserva é às 19h’, eles chegam às 21h30. Esse comportamento é bem brasileiro. É uma cultura diferente, alegre, menos quadrada. Mas querem desfrutar de tudo sem horários.

E como lida com isso? O brasileiro parece com um poodle, é muito bravo, mas nem tanto. Isso acontece com vocês. Ficam bravos, falam, mas, se falamos que vamos chamar a polícia, aí param, acaba a valentia. São bravos com o garçom, com a recepcionista. Mas quando chega alguma autoridade param.

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Quais são as expectativas com a entrada do grupo americano que passou a gerir o Valle Nevado? Há muita expectativa com a entrada da MCP, eles são uma família que opera vários centros de esqui. Esse primeiro momento vai estar muito relacionado a (mudanças na) montanha, como o sistema de fabricação da neve, tanques de água etc. Dado o clima de hoje em dia, necessitamos de maior produção de neve e acumulação de água. E depois talvez venham outros projetos de hotelaria e mobiliário.

Como tem acompanhado o impacto das mudanças climáticas? Vemos na região, nos últimos 30 anos, caindo a quantidade de neve. Quando cheguei aqui tínhamos temporadas de neve de 6, 7 metros. E agora não superamos 3 metros e meio. El Nino, que é um fenômeno climático natural, não é de mudanças climáticas. O El Nino aumenta a temperatura dos oceanos e isso muda a diferença entre a água de precipitação e neve. Ainda não tivemos nevasca nesta temporada.

Isso é uma preocupação? Sim, por isso os projetos do novo sócio estão destinados à fabricação de neve e acumulação de água. É um ciclo que acontece e temos que protegê-lo. O centro dos Estados Unidos tem 100% de neve fabricada. Eles têm água do lago e podem produzir sem limite. Aqui temos capacidade limitada para fabricar.

Fora os hotéis, quantas casas há no Valle? São onze condomínios, aproximadamente 300 apartamentos. Um pouco mais de 2.000 moradores. Essas propriedades são somente para quem tem dinheiro. Há ainda os turistas que não dormem no Valle Nevado, preferem algo mais econômico, como ficar em Santiago e subir durante o dia.

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Qual é a capacidade dos hotéis? Temos 258 habitações, com 570 camas. Quando estamos em 100% chegamos a ter 650 pessoas, colocamos camas adicionais. Valle Nevado é um centro 100% seguro, aqui não vai ter assalto, nada. Temos força policial de 100 policiais permanentes. Todos se sentem seguros. As portas ficam abertas.

Avisos em português -
Avisos em português – (Valmir Moratelli/VEJA)
Montanha de neve
Montanha de neve – (Valmir Moratelli/VEJA)
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Brasileiros na neve -
Brasileiros na neve – (Valmir Moratelli/VEJA)
Brasileiros na neve -
Brasileiros na neve – (Valmir Moratelli/VEJA)

 

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