Ex-mulher de Ruy Guerra acusa produtores de assédio moral e misoginia
Luciana Mazzotti foi co-diretora e roteirista do filme 'A Fúria'; entenda caso

Ex-mulher de Ruy Guerra, 93 anos, Luciana Mazzotti, 49, co-diretora de A Fúria (2024), acusa os produtores do longa, Rune Tavares e Rodrigo Sarti Werthein, da Acere Filmes, de assédio moral e misoginia. Em entrevista à coluna GENTE, Luciana contou que o filme era originalmente dirigido pelo cineasta, no entanto, devido à sua idade, Ruy não conseguia estar presente em todas as filmagens, delegando o papel de diretora a ela. “Fui contratada primeiro como roteirista, tivemos três meses para terminar o roteiro. Depois virei diretora assistente, minha função seria preparar as cenas para o Ruy, mas ele estava com 90 anos, eram doze horas de trabalho por dia, durante cinco semanas. Ele não tinha condições de dirigir várias cenas, então achou adequado que eu dirigisse”, relata.
De acordo com Luciana, as gravações começaram durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e a verba para a finalização não estava sendo liberada. Assim, Ruy convidou Renato Vallone para montar o filme com a promessa de que receberia o pagamento antecipado. Para que o trabalho continuasse, Luciana instalou em sua casa a ilha de edição e convidou Renato para morar por um tempo por lá. “Passei por muitas sabotagens nesse filme, uma delas foi que um montador foi chamado, na época a produção estava sem dinheiro, e deixei ele morar comigo. Um dia esse montador criou uma enorme confusão comigo e depois saiu dizendo que eu tinha assediado ele moralmente. Depois da confusão, Rune Rodrigo vieram aqui em casa para dizer que eles não iam assinar contrato comigo, porque senão esse montador iria processá-los”.
O filme ficou parado por um tempo, até que, em 2024, Ruy incentivou a inscrição do longa no Festival de Brasília. Nesse momento, Luciana afirmou que Rodrigo tentou convencê-la de tirar seu nome dos créditos. “Eles não queriam botar meu nome na direção, ficavam repetindo que o Ruy me deu o cargo, como se eu não tivesse merecido. Eles mandaram um contrato para eu assinar, que era simplesmente eu passando todos os meus direitos para eles, sem nenhum pagamento, sem ganhar nada em troca”, afirma. Após negar o acordo, Rune e Rodrigo teriam oferecido a ela 5 mil reais para que assinasse o contrato, caso contrário tirariam seu nome da direção. “Ninguém presente poderia substituir o Ruy além de mim. Estava trabalhando com o Ruy há oito anos, ele até brincou comigo outro dia e falou: ‘Quem vê seus planos no filme, nem sabe quais são seus e quais são os meus, de tão parecido que a gente filma’. Esse foi um comentário do Ruy, eu realmente tenho esse reconhecimento dele”, acrescentou Luciana que também fez mestrado com o cineasta. A coluna GENTE entrou em contato com a Acere Filmes para ouvir os demais envolvidos, mas até o momento não houve retorno.
A Fúria é o fechamento da trilogia de Os Fuzis (1964) e A Queda (1978). O longa conta a história de Mário, um homem torturado e morto na ditadura que volta à Terra para se vingar de seus inimigos- e para isso conta com a ajuda de três mulheres. O protagonista confronta os principais nomes da política, como governadores e ministros, além de empresários e pastores evangélicos. Durante pandemia, a diretora fez algumas alterações no roteiro para valorizar a presença feminina no roteiro. A produção, que resgata características do Cinema Novo, recebeu Prêmio Especial do Júri no 57º Festival de Brasília, em 2024.