Após chuvas fortes nas últimas semanas, centenas de moradores deixaram suas casas e regiões inteiras foram bloqueadas em Gramado (RS). O motivo, além da tempestade, foi o aparecimento de rachaduras e deslizamentos em alguns bairros. O problema ficou tão intenso que levou ao desabamento de um prédio, na manhã de quinta-feira, 23, no bairro Três Pinheiros. Todos os moradores do local já haviam sido desalojados no domingo, 19, e não houve feridos. Marcos Barreto, especialista em Geotecnia e professor da Politécnica/UFRJ, conversou com a coluna sobre o problema e possíveis causas desse fenômeno.
“O que acontece em Gramado é o rastejo. Esse é um dos tipos do que chamamos de movimentos de massa, como os deslizamentos. Ele é caracterizado por um movimento lento e, por esse fato, vai abrindo rachaduras. Certamente essa área já deveria estar dando sinais, com algumas rachaduras, mas talvez pequenas e não perceptíveis. O que pode ter acelerado esse processo foram as chuvas fortes dos últimos dias, já que a resistência do solo diminuiu pela infiltração de água e assim ele se deforma e pode romper”, explica Marcos.
O especialista também alerta que obras de construção civil, especificamente em áreas de encosta, pode contribuir para o agravamento do fenômeno, já que também pode diminuir a estabilidade da encosta. “O que atrapalha não é necessariamente o peso da casa em si, mas certamente escavações e aterros pioram a situação”. Ele chama atenção para a necessidade de monitoramento dessas regiões, que pode ocorrer inclusive via satélite. “É possível adotar soluções para evitar que o nível da água suba muito. Pode-se fazer um sistema de drenagem, com drenos horizontais ou poços, de forma a garantir que o nível da água não suba a ponto de desestabilizar a encosta. Mas é essencial o monitoramento permanente desse deslocamento da encosta”, alerta o especialista.