Na casa dos 70 anos, de óculos e barba branca, bem que Luciano Peccin poderia ser o típico Papai Noel da festa que ajudou a se tornar ponto alto do turismo na serra gaúcha. O empresário foi um dos idealizadores do Natal Luz de Gramado (RS), evento que por mais de duas décadas leva turistas – hoje na média de dois milhões de pessoas – à cidade iluminada. “Gramado é uma cidade diferenciada por si só, somos uma comunidade italiana e alemã que curte muito esse negócio de Natal. E a ideia foi levar a festa de dentro de casa para fora. A cidade abraçou a ideia e aceitou de imediato lá atrás, nos anos 1980”, defende Luciano à coluna.
Em 1986, na sua primeira gestão como secretário de Turismo da cidade, o empresário, hoje CEO da coleção Casa Hotéis, que reúne, entre outros, o luxuoso Hotel Casa da Montanha, teve a ideia de criar o Natal Luz, junto do maestro Eleazar de Carvalho, que estreou com um concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa). Inspirado nas paradas da Disney, Luciano quis iluminar a fachada das casas e, sem orçamento, fez isso de porta em porta, oferecendo lâmpadas de geladeira a preço de custo. Além de plantar alguns pinheiros pela cidade, que ganharam uma fita vermelha de decoração. “A gente sempre imaginava que o Natal era uma coisa familiar, muito fechada. Grande mentira, tudo que o cara quer é sair um pouco de casa. Quando comecei, me perguntavam ‘quem é que vai sair de casa do Natal?’. E descobri que as pessoas queriam isso. Ninguém quer a tia chata em casa”, brinca.
Hoje Peccin não atua mais à frente do Natal Luz, mas continua agitando o setor do turismo da região com sua rede de hotéis e restaurantes. Ele acredita que o poder público deve “apoiar e não atrapalhar” a iniciativa privada na área. “O turismo no Brasil nunca foi levado a sério, principalmente do Rio Grande do Sul. Começamos há 40 anos, de porta em porta. Mas o Rio Grande do Sul nunca soube se vender. Tu não é recebido em Porto Alegre por uma estrutura turística. Tudo é copiado da Europa, mas não é a criatividade do gaúcho. Nunca tivemos um Ministério do Turismo eficaz. A não ser como um ministério político, como uma troca de cargo por favores. Esse talvez tenha sido o sucesso de Gramado: não utilizamos a parte política, porque não tinha verba. As coisas acontecem por iniciativa dos empresários”.