Digital Completo: Assine a partir de R$ 9,90
Imagem Blog

VEJA Gente

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Notícias sobre as pessoas mais influentes do mundo do entretenimento, das artes e dos negócios

Elisa Lucinda detalha o fim da amizade com Regina Duarte

Atriz, que vive a matriarca evangélica Marlene em ‘Vai na fé’, fala a VEJA: ‘Jovem de direita é uma porrada no coração’

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 fev 2023, 11h31

Na novela Vai na Fé, da TV Globo, Elisa Lucinda interpreta Marlene, a matriarca evangélica da família de Sol (Sheron Menezzes). Antes da trama de Rosane Svartman estrear, Elisa já era assunto por dois motivos – os comentários que fez nas postagens reacionários da ex-amiga Regina Duarte no Instagram, e também pela proximidade com a área de cultura do novo governo. Em bate-papo com a coluna, Elisa esclarece: “Não fui na página da Regina para causar, mas provocar reflexão. Que isso fique claro, não há treta”. A seguir, a conversa.

Em Vai na Fé, você faz uma matriarca evangélica. Como o tema dialoga com o país atual? Fui esperta, me baseei em batistas interessantes, de famílias modernas, petistas. Onde o evangelho não é aprisionante. Faço uma mulher digna, que construiu uma família preta, onde ninguém se perdeu para bandidagem. Porque quando se é pobre e preto num país desigual, a camada de cidadania é frágil. Homenageio as mulheres que seguram a família em pé.

É uma forma de combater o estereótipo reacionário? Acho que sim. Está sendo um exercício lindo, porque fugi do lugar da intolerância. Sou do Candomblé e detesto o jeito que a ficção brasileira trata (o tema). É sempre um estereótipo de Preto Velho dançando, recebendo espírito, é deboche….

Você fez parte da equipe de transição do governo? Fui convidada, mas já estava fazendo novela… E é uma dedicação! Mas eu estava perto. Vão ter que recomeçar do zero (o ministério da Cultura). O que mais me ‘pirou’ foi o reinado da ignorância, tiraram o quadro da Djanira do Palácio (do Planalto)… Imagina. Foi tanta destruição.

Como explica o que ocorreu no país nos últimos tempos? O Brasil desenvolveu uma doença autoimune. Não se reconhece onde ele é, tipo assim: ‘Ah, não tenho terras na Amazônia, pode queimar!’. ‘Eu não tenho parente preto, não é assunto meu’. Chamam de mimimi todo preconceito contra gay, contra negro…

Continua após a publicidade

O que destaca como mais grave? A confusão dos conceitos na cabeça dos jovens. Para mim, jovem de direita é uma porrada no coração. A juventude é o balcão da revolução. Dia desses pedi informação a uma mulher em Joinville, devia ter uns 22 anos. Ela disse: ‘A farmácia fica depois da manifestação’. E eu: ‘Que manifestação?’. Ela falou: ‘Contra as eleições’. Falei: ‘Meu amor, a eleição acabou’. Mas ela insistiu: ‘Há outras reivindicações, a gente quer a volta da ditadura e liberdade de expressão’. Não dá para ter as duas coisas, gente! Um dos maiores problemas no Brasil é a confusão de conceitos.

Você sempre foi próxima de Regina Duarte. Como ficou a amizade? Tenho um patrimônio no meu coração do que a gente viveu, fomos muito amigas, mas não reconheço mais essa mulher. Sempre que eu estreava em São Paulo, ela fazia festas na casa dela. Foi uma professora para mim. E era muito querida, sempre anti-glamour. Quando começou a onda bolsonarista, tentei falar com ela. Não consegui, ela não me atendia. Foi tudo muito violento.

Não voltaram mais a se falar? Não. Até que em setembro ela foi a uma apresentação minha em São Paulo. Ela estava de máscara, chapéu, totalmente escondida; e eu autografando livros. Foi quando ela furou a fila. Falei: ‘Minha senhora, tem que esperar’. E ela: ‘Eu quero um autógrafo’. Respondi: ‘Quando chegar a sua vez eu faço’. E ela: ‘Não está me reconhecendo? É a Regina’. Olha, foi uma das coisas mais emocionantes da minha vida, comecei a chorar. Eu disse: ‘Regina, o que aconteceu com você?’. E ela: ‘Eu amo você’ e me deu uma carta linda. Ainda disse a ela: ‘Você não está vendo quem é esse homem?’.

Continua após a publicidade

O que ela respondeu? Me chamou para fazer a peça do Jô Bilac e me deu um texto escrito com meu nome, como se eu já fizesse parte do elenco. Aí me revoltei: ‘Jô Bilac é preto, viado, não acredito que você vai fazer parte da peça, ele sabe? Eu não posso fazer peça com você, você é bolsonarista. Você luta contra o país que eu acredito’. Disse tudo isso chorando. Voltei para casa e liguei para o Jô. Ele disse que não sabia de nada de peça!

Quando começou essa amizade? Quando fizemos a novela Páginas da Vida, do Manoel Carlos, em 2006. O telefone tocou, era ela. Pensei que era uma amiga pregando uma peça! Ela: ‘Seremos amigas na novela, a gente tem que se conhecer. Queria que você dormisse na minha casa, faço uma sopa e colocamos os assuntos em dia’. E aí começou uma intimidade doida. Ela veio na minha casa, comemos bolo. Somos aquarianas, adoramos poesia, Fernando Pessoa, caderninhos com purpurina e decalque. Fomos encontrando afinidades. Em 2012, fui homenageada no carnaval de Vitória. Regina comprou passagem e foi desfilar comigo!

Voltaria a ser amiga dela? Eu a amei muito. Há um lugar em mim que ama uma outra Regina.

Continua após a publicidade

Trabalharia com ela? Ela foi longe demais, é um tratado ideológico muito dodói. É triste dizer isso, porque eu sou muito grata. Na Globo, a gente revia cenas e eu falava: ‘Que coisa horrível essa minha cena. E ela: ‘Não leva isso para a cama, não’.

E com Cássia Kis? Alguma relação? Não, são coisas diferentes. Mas é tudo meio assustador né? Ficar rezando na porta dos quartéis é um delírio, distanciamento da realidade.

Com a posse de Lula e o restabelecimento do ministério da Cultura, a caretice chegou ao fim no país? Não tão automaticamente. Alguém falou esses dias que o poder é gravitacional, tudo vai para o poder. Quem está governando e com mão firme é o Lula. Estamos vivendo uma utopia, vai demorar um pouquinho para se ajeitar tudo. Concluindo a questão da Regina, não fui na página dela para causar, mas provocar reflexão. Que isso fique claro, não há treta!

Continua após a publicidade

https://www.youtube.com/watch?v=iT6T5E1RwsY&t=10s

https://www.youtube.com/watch?v=iBzXuk-1wGk

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
ABRIL DAY

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.