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Eduardo Sterblitch fala da peça Beetlejuice, Globo e ‘crimes’ no Pânico

Festejado no musical ‘Beetlejuice’ e na série ‘Os Outros’, ator faz balanço de sua trajetória. Sem perder o humor, claro

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 Maio 2024, 08h36 - Publicado em 16 out 2023, 11h00
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  • Eduardo Sterblitch está na carreira artística desde os 3 anos de idade. Talvez por isso seja estranho chamá-lo de “talento da “nova geração”. Mas foi a partir da recente série Os Outros, do Globoplay, na qual interpreta morador miliciano de um condomínio da Barra da Tijuca, no Rio, que o público passou a encará-lo muito além das performances engraçadinhas que fazia como Freddie Mercury Prateado, dos tempos de Pânico na TV. Agora, aos 36 anos, encara outro desafio, digno de atleta olímpico. Por quase três horas, protagoniza a versão brasileira do premiado musical Beetlejuice – cantando, encenando e se jogando no chão como um fantasma politicamente incorreto. Em divertida conversa com a coluna, Eduardo fala sobre todos esses desafios. Assista a seguir.

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    UNIVERSO ATENTO. “Eu estava fora do Brasil, estava rolando essa peça em Nova York, e muita gente tinha dito que era legal, mas não consegui assistir. No Brasil, Alexandre Nero ia fazer. E eu pensei: ‘Já era, pelo menos vou conseguir assistir no Brasil’. Aí passou um tempo, eu estava escrevendo outra peça, e o Rafael Queiroga falou para mim, no meio da reunião de criação, que abriram audições para o Beetlejuice. Ou seja, o universo ouviu o meu pedido.”

    PIQUE DE ATLETA. “Comecei a me preparar entre as gravações de O Auto da Compadecida e Os Outros. A gente também usa (atores) alternantes na peça. Quando a minha voz falha e a virilha não aguenta, ele entra. No musical, o ator chega mais perto do atleta. Estou fazendo preparação de mobilidade, fisioterapia e alongamento. Não tem como fazer sem preparação. É um personagem que tem voz muito para fora, é quase uma criança gritando. E depois bebo um whisky para relaxar.”

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    SURPRESAS DO MERCADO. “É muito difícil fazer coisas assim, tipo o Pânico, que foi um fenômeno. Na rua, o mendigo fala ‘oi, Prateado’. Meus personagens são mais famosos que eu e isso é muito bom. Sou meio sociopata mesmo, quietinho, não saio de casa. Nem me visto direito, porque chego no trabalho e a primeira coisa que eu faço é tirar a roupa. Mas o legal do Sérgio (papel em Os Outros) é que o papel do artista é dar a volta no mercado, surpreender. E tento ser isso, me dedico para trabalhar nesse lugar de surpresa.”

    AMIGO DO SÉRGIO CABRAL. “Fui buscar inspiração nessas figuras cariocas, principalmente políticos carismáticos do Rio. Sérgio Cabral, por exemplo, que foi condenado e é um cara muito maneiro. Você olha o Instagram, dá vontade de ser amigo do Sérgio Cabral. Ele é um cara culto, fala bonito, elegante, vascaíno… Eu tinha um tio assim, e era levemente estelionatário, já foi preso e tudo. E eu amava ele. Eu era criança e ele me mostrou como clonava cartão de crédito para comprar coisas na internet. Essas coisas que existem no Brasil, de golpes, pequenos golpes.”

    ÉPOCA DO PÂNICO. “Eu tenho vergonha dos crimes que provavelmente cometi ali dentro. Era um outro mundo. Tenho vergonha da minha ignorância artística. Era moleque. Entrei no Pânico com 17 anos, não tinha nenhuma responsabilidade social, do que representava, da minha responsabilidade enquanto artista. Era muito mais egoísta, muito fascista nesse lugar, como uma pessoa jovem. E fui aprendendo com a vida adulta, não só com o mundo mudando. Piadas homofóbicas, racistas, misóginas, que a gente não percebia. Eu não sei o que gerei de dor, às vezes tem uma piada que ninguém nem lembra que fiz, mas que pode ter machucado alguém. Desculpa. A gente não está aqui para isso, mas sim para provocar, divertir, às vezes até mesmo insultar, mas sempre tudo no divino, no artístico.”

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    PREPOTENTE ASSUMIDO. “Todas as pessoas com quem não me dou bem são as que não levavam a sério (o trabalho) do jeito que eu estava levando. Aí parece arrogância, mas sou muito afetuoso, dedicado. Às vezes é uma prepotência, sou um pouco prepotente. É a coisa da palavra, tenho que acreditar que sou bom para ter confiança de fazer uma cena com a Adriana Esteves. Se não, o que vou fazer?”

    SOCIEDADE HIPÓCRITA. “O ser humano é assim. Ninguém ajuda ninguém. A gente não é solidário. A gente coloca a culpa na nossa falta de solidariedade, na falta de humanidade dos outros, nunca é a gente. Quem fez o Bolsonaro existir foram as pessoas, 40% da sociedade brasileira. Eu não culpo ninguém, eu culpo todo mundo. As pessoas são muito hipócritas. Ninguém trata bem o porteiro, ninguém trata bem o pai, ninguém respeita a lei, ninguém cria direito o filho. Quando você vê alguém cancelado… ‘Olha, o Bruno de Luca foi cancelado’. Aí fica quase feliz que o outro foi cancelado porque não foi você”.

    INSPIRAÇÃO DO DIABO. “Fiz o diabo no Grande Sertão Veredas, que é o diabo da crueldade, da violência, que existe muito. No Beetlejuice é o diabo da fantasia, brincalhão, nosso diabo de desenho animado, que você ri dele. E tem o Sérgio que é o diabo real, que está aqui. Todo mundo é ele. Todo mundo é um assassino. A Camila Amado (professora de interpretação) me ensinou isso, todo mundo é assassino, é maravilhoso, é santo, é babaca, a gente é tudo o tempo inteiro.”

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    O programa Veja Gente é gravado em cenário desenvolvido pelo arquiteto João Amand e pela designer de interiores Sophia Abraham, com patrocínio da House Us.

    Eduardo Sterblitch
    Eduardo Sterblitch (Reprodução/VEJA)
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