Documentário expõe dilemas políticos que Rock in Rio pode ter em setembro
Apesar de pouco exploradas na produção do Globoplay, manifestações estão atreladas a festival
Cenas de bandeiras do Brasil em punho, servindo como adereços e vestimentas, dão a tônica das cenas iniciais de Rock in Rio – a História, série de cinco episódios já disponível no Globoplay. A primeira edição, num terreno enlameado da ainda pouco habitada Barra da Tijuca em 1985, teve como contexto político a redemocratização do Brasil e a eleição de Tancredo Neves. Impossível não se fazer um paralelo com os tempos atuais. A próxima edição do festival acontece a um mês das eleições. Para completar, no final de semana anterior e posterior ao feriado de 7 de setembro, utilizado por Jair Bolsonaro (PL) como marco para que apoiadores vão às ruas vestidos de verde e amarelo.
Leia também: Pepeu Gomes surpreende com posição sobre protestos políticos em shows
A produção se propõe a contar como o festival se tornou parte da história e da cultura do país, acompanhando as transformações de cada época. Mas o que se assiste é a uma sucessão de recortes de entrevistas, a maioria não é inédita (como a da então estreante Anitta, logo após se apresentar na edição de 2019; ou a conversa icônica de Freddie Mercury com Gloria Maria), e picotes de shows facilmente encontrados no YouTube. Não há uma linha narrativa que prenda a atenção. Nem novidades de bastidores.
A própria história do festival renderia diversos desdobramentos interessantes e pertinentes para se discutir a importância do entretenimento para o país – principalmente em tempos de ataques à cultura. Era só escolher uma linha e seguir em frente… Como a cidade do Rio se transformou em quase quarenta anos; as alterações no humor político do país e sua recente democracia; a profissionalização do show business latino; a moda e os costumes de artistas que, para se manterem no auge (e no palco mundo), dialogam com sua época; entre tantas outras possibilidades.
Com direção de Patricia Guimarães e produzido por Andrucha Waddington, Renata Brandão e Mariana Vianna, com roteiro de Rodrigo Pinto, o documentário prefere seguir uma linha publicitária, vendendo a imagem de que os dias de festival são sempre incríveis, à parte da realidade da cidade e do país. As imagens de tiroteio na favela da Rocinha, durante a edição de 2015, ou mesmo a briga do ex-governador Leonel Brizola com o empresário Roberto Medina se perdem no meio de números musicais. Mas é pensando num futuro próximo que a produção parece dar um norte. Pelo slogan “Se a vida começasse agora”, reforça-se como o evento deve proporcionar momentos emblemáticos a um mês das eleições de outubro. A vida pode recomeçar a partir dos gramados, hoje já sem lama, do Rock in Rio.