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Conceição Evaristo: ‘Minha história não é só nascer na favela’

Autora fala à coluna sobre o combate diário ao reducionismo de sua imagem

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Giovanna Fraguito Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 12h33 - Publicado em 9 abr 2024, 07h00

Aos 77 anos, Conceição Evaristo é uma das vozes mais atuantes da literatura brasileira atua. Escrevendo quatro livros ao mesmo tempo, a escritora fala à coluna GENTE sobre a possibilidade de se tornar imortal na Academia Brasileira de Letras (ABL) – seu nome volta e meia é ventilado como possível candidatura. Em 2018, aliás, ela perdeu a vaga para Cacá Diegues na cadeira número 7. A seguir, o bate-papo.

A senhora não ganhou uma eleição recente para se tornar imortal da ABL. Isso a abala de alguma forma? De forma alguma. Acabei de ser considerada imortal pela Academia Mineira de Letras, antes foi pela Academia Brasileira de Artes, também já teve Academia Brasileira de Cultura. Então vou somando essas imortalidades todas. Sem dúvida é um rito que confirma determinados lugares, mas ao mesmo tempo que confirma determinados lugares, eu acho que confirma também uma determinada responsabilidade. Ser imortal é uma responsabilidade também, porque você carrega uma representatividade.

Quando pretende lançar seu novo livro? Estou preparando não só um, mas vários livros. Tudo ao mesmo tempo, porque pego uma coisa, faço outra, não vivo só da escrita. Eu dou palestra, curso… Em preparo, tenho O Silencioso Pranto dos Homens, Flores de Mulungu, A Velha e Seus Segredos e um outro livro que ainda não tem título, um de poemas. Fora trabalhos que tenho que fazer prefácio, às vezes análise de livros, é muita coisa ao mesmo tempo.

A fama atrapalha esse momento de criação do escritor? Atrapalha se a pessoa não tiver o pé no chão. Eu não sou assim, tenho muito pé no chão e gosto de assuntar muito. Sempre me questiono: “Por que estão me convidando?”. Se estão realmente acreditando no meu trabalho ou se me olham somente como uma mulher negra.

Como isso se torna um problema no dia a dia? O fato de ser uma mulher negra é uma faca de dois gumes. As pessoas às vezes leem a minha biografia e não leem o meu trabalho. Eu tenho insistido muito nisso. Minha biografia, o fato de ser uma mulher negra na sociedade brasileira, é claro que influencia o meu trabalho, mas não é só isso. Tenho plena consciência de que estou lidando com a Literatura, e literatura trabalha com a arte da palavra.

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Qual é a sua maior preocupação neste sentido? Fico muito preocupada que as pessoas só leiam: “Conceição, nasceu na favela, hoje é imortal”. A minha história não é só nascer na favela. A minha história é o estudo, a pesquisa, a leitura, a consciência de que lido com a arte da palavra, é isso tudo. Tenho receio de que as pessoas leiam a minha história pessoal, leiam a minha aparência e não o meu trabalho. É um combate diário ao reducionismo.

Voltando à ABL, é uma virada de página na própria história da instituição ter, entre os imortais, nomes como o de Gilberto Gil e, agora, o de Ailton Krenak? Se não é uma virada de página, é uma marcação. Eu não queria nem falar de inclusão, acho que é justamente a marcação dessa diversidade brasileira no campo da arte e no campo do conhecimento. Cada vez mais essa casa lucra com a pluralidade e se torna mais representativa do que é a cultura e a literatura brasileira.

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