Carmo Dalla Vecchia: ‘Faço o que dizem que deveria ser papel da mulher’
Ator fala à coluna GENTE sobre o Dia dos Pais, ao lado de João Emanuel Carneiro, com quem tem um filho, Pedro
Prestes a estrear o clássico As Bruxas de Salém no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro, Carmo Dalla Vecchia, 53 anos, defende que a arte e a vida se misturam, na mesma proporção que a política se torna inerente a ambos os campos. A peça conta a história de meninas que, durante uma brincadeira na floresta, são perseguidas e acusadas de estarem possuídas pelo diabo. Em entrevista à coluna GENTE, o ator analisa o quanto as falsas acusações e o preconceito com o diferente ainda estão presentes na sociedade. Casado há 19 anos com João Emanuel Carneiro, 55, os dois são pais de Pedro, 5, o ator conta sobre a discrimação que viveu na pele, mas que, com “o amor de amigos e famílias”, não se deixou afetar, se autodenominando “viado da família brasileira”.
Por que ainda hoje As Bruxas de Salém traz temas atuais? As Bruxas de Salém tem uma atualidade que é sempre perene, porque fala justamente de uma fake news, muito do que a gente vê hoje em dia sendo feito na política. A história é de um grupo de meninas que resolve fazer uma brincadeira que custou a vida de muitas pessoas. É um paralelo interessante com o que a gente vê hoje acontecendo.
E por que as fake news são tão atemporais? A fake news é justamente um fato que existe, mas que foi transformado dá origem à raiz que faz com que uma série de pessoas acreditem em algo que não é verdade. Se a gente fizer um paralelo com otarifaço que está acontecendo no Brasil, através de um grupo de pessoas que acham que a realidade é uma, quando na verdade a realidade é outra, acaba sendo um tiro no pé.
A peça fala muito de uma sociedade puritana. O quanto o Brasil se enxerga nessa visão? A gente tem dois polos que pensam de maneiras diferentes, temos lugares radicais no nosso país, ou nos nossos pensamentos. As pessoas têm coragem de botar para fora os seus preconceitos. O grande problema do ser humano é que as pessoas têm uma tendência, geralmente, a não pensar no coletivo. Quando você vê a esposa do (jogador) Daniel Alves, que estuprou uma menina na boate, defendendo o próprio marido, claramente percebe que ela está pensando no seu interesse, está cagando um balde para qualquer pauta feminista ou humanista.
Enquanto homem gay, como o preconceito se reflete na sua vida, mesmo sendo famoso? Desde o momento que eu nasci, todos os aspectos, porque existe preconceito e sinto na pele. O que me ajudou muito é que fiz muito tempo de psicanálise, então aquele lixo que colocaram na minha cabeça, entendi que o dono não era eu. Só devolvi, disse: ‘toma esse lixo de volta’.
Como foi a sua trajetória em relação à própria descoberta? Descoberta eu sempre tive, sempre soube. Foi um momento que disse: ‘não, chega, não quero mais não’. Passou uma pandemia, muita gente já morreu. Entendi que esse lixo não é meu
E em relação à família? Foi mais tranquilo, porque me tornei uma pessoa que conseguiu se sustentar, que tem família, família longeva, filho… As pessoas tiveram um olhar para mim de, ‘que legal, esse cara é um viado que deu certo’. Talvez se eu tivesse outra história na vida, tivesse tido mais problemas com a minha família.
Por que demorou pra vir a público falar da sua orientação sexual? Porque eu era uma pessoa reservada no sentido da vida artística. Qualquer pessoa que minimamente me conhecia sabia que eu era gay, nunca escondi de ninguém esse fato, só não fui dar uma entrevista para falar sobre o assunto. Mas nunca tive problema em falar, pode julgar: ‘fala aí o que você quer falar. Vai me chamar de viado?’. Eu tenho título viado da família brasileira.
E por que esse rótulo? Porque fui o viado que as pessoas abraçaram. Dizem: ‘olha, viado pode ser casado, olha, viado pode ter trabalho, pode ter família, pode ter filho’, é quase uma ironia. Muitas mães me param na rua para me agradecer, hoje sou muito mais conhecido pelo trabalho que faço à minha comunidade do que por qualquer novela.
Na peça Corte Fatal, você interpreta Tony Penteado, um cabeleireiro que usa lingerie. No São Paulo Fashion Week, chegou a desfilar de calcinha. Como foi a experiência? Eu não sabia que era uma lingerie, quando dei de cara com aquilo, disse: ‘ meu filho, tá no inferno, abraça o capeta’. E foi tranquilo. Tanta colega minha desfila no Carnaval, muito menos roupa do que isso, todo mundo vai achar bonito, porque vão ter preconceito comigo?
Você já fez uma brincadeira com seu filho, Pedro, de que você é a mãe e o João Emanuel é o pai. Por que a diferenciação? Culturalmente, na nossa sociedade, infelizmente, as pessoas acham que é a mulher quem cuida da comida, bota para dormir… Acho que isso já mudou um pouco, mas ainda temos esse histórico. Geralmente, o João é a pessoa que brinca com o Pedro, que se diverte… e eu sou a pessoa que cuida da parte prática do Pedro. O que faço é muito conectado com a imagem que as pessoas têm do que deveria ser o papel da mulher.
Você se vê nessa figura “materna”? Não existe mulher dentro do relacionamento gay. Começando que não existe a mãe no caso do meu filho. Mas, geralmente, o tipo de relação que tenho com ele é coisa prática no meu dia a dia, quem sabe se tem roupa, quem sabe se o tênis está servindo, se precisa comprar outro tênis. Mas tentam polemizar em cima disso.
E como será esse Dia dos Pais? Saímos para jantar juntos, comprarmos presentes um para o outro. Pedro é muito feliz, ele adora encher a boca para dizer que tem dois pais.
Já o levou para ver algum trabalho seu? Eu já levei ele numa peça ou outra minha, porque, na verdade, ele gosta de estar muito grudado com a gente o tempo inteiro. Então, naturalmente, acaba indo ver alguma coisa, mas também tem cuidado para não me tornar chato com ele.
Vê Pedro puxando essa veia artística dos pais? Não sei se ele vai ter conexão com isso, porque hoje o meu filho é muito centrado em bola e carrinho, ele não é um garoto que gosta de foto. Ele não é muito essa criança que quer se mostrar o tempo inteiro e tomara que não seja, porque o artista sofre demais.
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