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Barraco no high society: festa durante pandemia vira caso de polícia

Internada com Covid-19, Rana Saleh se irritou com festa organizada por seu ex-marido, sem a sua autorização, dentro do apartamento onde mora com o filho

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 18h59 - Publicado em 22 abr 2020, 14h47

Um caso de quebra de quarentena tem movimentado a alta sociedade de São Paulo. O advogado Abid Abdouni, ex-reitor da Universidade Brasil, enrolada na Justiça, levou na terça, 21, ao menos nove pessoas, de acordo com um vídeo a que VEJA teve acesso, para um almoço-festa particular. O encontro ocorreu na casa onde vive sua ex-mulher, a dentista Rana Saleh, com o filho deles, de 12 anos, no bairro dos Jardins. Há um detalhe: Rana está há quinze dias internada no Hospital Albert Einstein com Covid-19 e, no momento mais crítico, chegou a fazer uso de oxigênio.

Do quarto 1071 no hospital, onde recebe tratamento médico, Rana começou receber fotos e vídeos da festa dentro de sua casa – com música eletrônica, comida farta e taças de vinhos nas mãos dos convidados. Esse conteúdo começou a se espalhar em grupos de WhatsApp de amigos e amigos de amigos. O coração de Rana foi a 140 batimentos por minutos, tamanho o desespero, segundo diz. Ela chegou a ligar para a polícia no fim da tarde da terça, 21. Agentes foram à portaria do imóvel, avaliado em 10 milhões de reais. Mas, por se tratar de um evento privado e sem transtornos à ordem pública, não houve muito o que fazer e a festa continuou rolando.

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O ex-casal é famoso na alta sociedade paulistana. Com 1,1, milhão de seguidores no Instagram, Rana é conhecida como a dentista dos famosos. Tem pacientes como Alexandre Pato, Joice Hasselmann, Mauro Naves e Val Marchiori. Advogado criminalista, Abdouni esteve nas manchetes recentemente. Em fevereiro, ele foi alvo da Operação Vagatomia, da Polícia Federal, que investiga supostas ameaças que teria feito a alunos que denunciaram venda de vagas na Universidade Brasil. A PF descobriu que a instituição recebera cerca de 500 milhões de reais do Fies de maneira fraudulenta. Segundo as investigações, a entidade fornecia “assessoria” aos alunos para falsificar os dados cadastrados no sistema do programa. No dia 20 de março passado, Paulo Fontes, da 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, devolveu o cargo de reitor da instituição a Adib Abdouni, que havia sido afastado por determinação judicial. Depois disso, Abdouni renunciou e hoje não tem ligação formal com a entidade.

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O advogado Adib Abdouni: ex-mulher chamou a polícia por ele fazer festa na casa dela durante a quarentena, com amigos bebendo e dançando pela casa enquanto ela está internada com Covid-10 no Albert Einstein (Reprodução/VEJA)

No dia 18 de abril, ou seja, três dias antes da festa, Abdouni publicou um artigo no site especializado Consultor Jurídico falando justamente dos efeitos da pandemia no setor de ensino. “Diante da calamidade pública instalada, com projeção de seus efeitos diretamente na economia nacional e na renda das pessoas, o Estado deve — em contrapartida — ampliar imediatamente suas políticas públicas de apoio e colaboração ao financiamento público da educação”, escreveu ele.

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Leia entrevista com Rana Saleh sobre a festa no imóvel de luxo durante a quarentena:

O que aconteceu? Estou há duas semanas internada no Albert Einstein por ter contraído a Covid-19. Meu filho de 12 anos ficou no apartamento com a empregada, que mora por lá. Isolados do mundo, eu imaginava que os dois estariam seguros. Acontece que ontem meu ex-marido deu uma festa em casa, levando inclusive uma mulher que há poucos dias anunciou ter testado positivo para Covid. Pelos vídeos que recebi, havia pelo menos doze pessoas na minha residência. Meu coração disparou, foi a 140 batimentos por minutos. Não me conformo com tamanho desrespeito. Eu não autorizei nada disso.

O que a senhora fez? Do hospital, não tive outra opção a não ser chamar a polícia. Mas por se tratar de um evento dentro de um apartamento, eles alegaram ser um problema de casal. Não é. Não importa se foi meu ex-marido quem comprou o imóvel, eu e ele ficamos casados por treze anos e estamos separados há três. A posse do apartamento é minha, assim como tenho a guarda do meu filho. Ele ir lá ver a criança, tudo certo, até recomendável com a mãe internada no hospital. Éramos amigos até ontem.

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Rana Saleh: ex-marido diz que pai dela, marreteiro, não poderia dar nenhum conforto (Reprodução/VEJA)
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Como avalia o caso? Repetindo, não se trata de problema de casal – mas de saúde pública. Um convidado da festa me bloqueou quando mandei DM pelo Instagram indignada com os post que ele publicou dentro da minha casa. Havia no local advogados importantes. Esse povo vive em qual mundo? Não respeitam o espaço e a saúde alheios? Minha empregada, se pegar Covid, vai para o SUS, já eles virão aqui para o Einstein. Não pensam nos outros, se acham acima dos seres humanos porque têm dinheiro. Pouco me importa se apoiam o presidente, que quer abrir tudo, ou o governador paulista, que prefere fechar o comércio. Todos sabemos que existe uma pandemia e o isolamento tem de ser respeitado. Sem falar na questão humana com meu espaço, fiquei muito chateada…

Explique melhor. Tiraram um quadro enorme com o meu rosto na decoração da sala. Ou seja, entram em casa, podem ter contaminado o local. Bebem meus vinhos e ainda tiram minha foto da parede. É um profundo desrespeito, fazem farra na minha sala enquanto meu filho fica preso no quarto jogando videogame. A única pessoa de máscara em casa era a minha empregada. Apesar desses absurdos, eles não sentem vergonha de colocar a vida alheia em risco.

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A senhora está falando dos vídeos que estão circulando em grupos de WhatsApp? Sim, ainda marcam um restaurante famoso de São Paulo cujo dono estava lá também. Publicam uma festa como se o mundo estivesse normal, só que invadindo minha casa e privacidade comigo internada justamente por causa do coronavírus.

Leia a entrevista com o advogado Adib Abdouni, organizador do almoço que virou caso de polícia

O que aconteceu? A polícia foi chamada e eu mostrei o IPTU, em meu nome. Estamos separados, mas eu moro lá até eu comprar um outro apartamento para ela. Fiz um almoço para advogados e juízes para discutirmos justamente esse momento atual. Ocorre que uma advogada fazia aniversário e cantamos Parabéns com um bolo. Fiz um evento na minha casa, não na casa dela.

Mas o senhor não mora em um flat no Itaim e, com a separação, a posse desse apartamento em questão ficou com ela? Moro no flat e também neste imóvel. Ali é meu apartamento, ela está lá de forma provisória enquanto não compro outro para ela morar. Eu dei várias coisas para ela, como o consultório. Na realidade, a Rana só é a Rana porque me conheceu por dezoito anos. O pai dela é um marreteiro, não tem condições de dar nada para ela.

Com o almoço na sua casa, o senhor não acha que expôs seu filho ao risco de contaminação? O meu filho ficou no quarto dele jogando Fortnite. O almoço fui eu quem levei no quarto para ele comer. Foi um encontro de juristas, não uma festa.

O senhor considera, dentro do contexto de isolamento social, fazer uma reunião de amigos durante uma pandemia? Seria fora de tom colocar em risco qualquer pessoa, mas o apartamento tem 500 metros quadrados. A Rana faz isso sabe porque ela me ama, não aceita a separação e quer voltar comigo (Rana nega: diz não amar o ex-marido nem pretender retorno). Ela sequer está com Covid (procurada por VEJA, Rana mostrou o teste positivo para Covid).

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