A nova novela das sete da TV Globo, Volta por Cima, estreia nesta segunda-feira, 30, com o subúrbio como o centro da história. Na trama, a autora Claudia Souto promete ressignificar o glamour sempre mostrado em folhetins da emissora e trazer críticas à elite brasileira. Em conversa com a coluna GENTE, Souto conta como surgiu a inspiração para sua história, que tem Jéssica Ellen e Fabrício Boliveira como protagonistas; comenta sobre os desafios de reconquistar a audiência para o horário e minimiza a polêmica com a escalação de influenciadores. “Tudo depende do talento”.
Qual foi sua inspiração para escrever esta novela suburbana? São várias fontes, uma delas é a minha própria família. Minha mãe nasceu em Bangu (na Zona Oeste) e, apesar de eu ter nascido na Tijuca, bairro da Zona Norte, ouvi a minha vida inteira histórias de lá. Por isso, as emoções de suburbana estão no meu DNA. Além disso, tenho vontade de falar com o Brasil todo. Quando você tem uma história e pode se comunicar com um país, não pode desperdiçar a oportunidade. Tem que falar coisas que sejam importantes para você, mas que também sejam para os outros. É um período em que o brasileiro quer se identificar nas histórias. Dessa forma, o subúrbio veio com força para a minha história porque temos subúrbios em todo o Brasil, que se interligam para dar suas voltas por cima.
A senhora comenta sobre o período em que vivemos. O que quer dizer com isso? A gente vive ciclos no audiovisual, em geral nas novelas. O brasileiro já quis assistir a novela por um mundo que não era o dele, o mundo que ele almejava. Agora, a gente está em uma fase em que o brasileiro quer ver o seu próprio mundo sendo representado.
O glamour das antigas novelas ficou no passado? O glamour sempre existe. A pessoa que está ralando quer ser glamorosa, mas pode ser glamorosa no baile funk, no baile de charme ou conquistando sua mansão, por exemplo. O glamour é para todo mundo.
A ideia é, então, ressignificar o glamour da ficção? Exatamente. O que é glamour para você, já dizia Ingrid Guimarães, né? (risos) O glamour que faço críticas é o da classe elitista. Não dá mais para ficar numa bolha com o planeta do jeito que está. Por exemplo, taxar grandes fortunas, isso é urgente. Essa desigualdade social precisa ser falada.
E a senhora vai abordar esses temas espinhosos no seu texto? Sim. Tem uma família, Góes de Macedo, que está falida e sendo sustentada por seu funcionário. A gente faz uma crítica por aí. Essas pessoas vão precisar se transformar se quiserem continuar vivendo no mundo de hoje.
A gente está vivendo um momento crítico em audiência na televisão aberta, em especial com novelas. Como vai lidar com essa pressão? A pressão, primeiro, é minha. Venho de duas novelas bem sucedidas, cada uma a seu jeito. Pega-pega (2017) foi um dos maiores da década, inclusive reprisou na pandemia. Cara e Coragem (2022) foi indicada ao [prêmio] Emmy [Internacional]. Então, venho com um sarrafo alto. Essa pressão da audiência se traduz em: quero que as pessoas gostem; quero que as pessoas se divirtam e também reflitam. Estou trazendo temas para serem refletidos. Não dá mais para fazer conteúdo só de comédia. Sou fruto da comédia, comecei na Globo fazendo humor, mas a gente precisa aprofundar um pouco, mantendo, claro, o nível fiel da novela das sete, porque não pode ir muito fundo nas questões, tem que ser leve, é para divertir e emocionar. Mas com responsabilidade.
As eleições municipais estão próximas. Vê algum impacto na novela? Não, acho que a mudança é no horário político, e em termos de conteúdo não temos nada.
Chega a trabalhar o tema de influenciadores na novela? A personagem da Betty Faria vai querer ser influenciadora. É a Belisa Góes de Machado, que vai fazer uma rede social sobre etiqueta.
Mas há crítica a esse mundo de influenciadores? Não, é uma possibilidade. Não sou radicalmente a favor nem contra influenciadores. Tudo depende do talento de quem está na câmera. A gente tem no elenco duas pessoas que são atuantes na internet. Um é o Márcio Machadinho, humorista e bombou nas redes sociais. Já sou fã dele do teatro há muitos anos. E outro é o Allan Jeon, que só descobri que era influenciador depois que ele já tinha passado no teste e assinado o contrato, não sabia do tamanho do Alan.
Tem problema com a escalação de influenciadores em novelas? Não. Nada me entende, mas também não me orienta. Com talento, há lugar para todo mundo.