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Adriana Bombom recorda perrengue dos tempos como assistente de Xuxa

Única negra no palco da apresentadora, modelo fala a VEJA

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Giovanna Fraguito Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 Maio 2024, 00h14 - Publicado em 18 jul 2023, 07h01

Entre as polêmicas levantadas no documentário de Xuxa, lançado no Globoplay, está a ausência de paquitas negras nos programas diários da década de 1990. Adriana Bombom, hoje com 49 anos, foi assistente de palco da apresentadora por dez anos. A modelo saiu do emprego de vendedora de loja no Rio de Janeiro para a televisão ao receber uma oportunidade de Marlene Mattos, então diretora da atração. Em conversa com a coluna, Bombom relembra os bastidores da atração e diz se ficou alguma mágoa daquela época.

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Você foi dançarina e assistente de palco da Xuxa por 10 anos. Como era o bastidor do programa? A vida nos bastidores era bastante agitada, exigia muita disciplina, dedicação e disposição. Muitas vezes, num único dia, gravávamos pelo menos três programas. Lembro que um dos maiores perrengues que passei foi entre o período que recebi o convite para gravar o programa até o momento que tive minha contratação definitiva na Globo. Naquela época, ainda trabalhava numa loja de moda no Shopping Rio Sul, e tinha que me virar para conciliar os horários das gravações com o trabalho de vendedora. Dependia muito do salário, na época era difícil uma menina negra conseguir emprego numa loja de moda num shopping da Zona Sul do Rio, mas eu queria muito estar no programa e dava meu jeito para estar lá. As gravações ocorriam de noite e iam pela madrugada.

E a relação com a Xuxa? Vocês saíam juntas após as gravações? Ela sempre foi muito simpática e carinhosa. Mas não existia uma relação de sair junto com a equipe… O que ocorria eram reuniões para ensaios e integração que a Marlene promovia na casa da Xuxa. Aí todos se encontravam, e a gente ensaiava, dançava, brincava, comia pizzas, pipocas… Mas tudo sempre dentro desses ambientes fechados para esse fim.

Vocês se falam hoje em dia? A gente fala frequentemente através de um grupo de whatsapp, bem descontraído. Além disso, sempre que ela tem algum evento, me convida. Nesse ano participei do Navio da Xuxa, pude levar meu marido e minhas filhas. Nos últimos dias tive o prazer de reencontrá-la e de rever muita gente que fez parte da minha vida, no lançamento do documentário.

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Como você vê essa exposição das divergências entre Xuxa e Marlene? Como Marlene sempre foi severa com todos, nunca deu para perceber se havia algum desgaste especifico com a Xuxa. Mas a fama traz o espaço para essa exposição, e os dois lados sempre correrão o risco de serem injustiçados.

Xuxa apontou que um dos motivos para não terem paquitas negras era o veto da Marlene. Você sabia disso? As paquitas sempre brancas e loiras eu entendo, era o padrão de beleza de uma época. As bonecas eram loiras, as protagonistas dos filmes e novelas em sua maioria também eram… Não havia no Brasil o ativismo que existe hoje. As paquitas lembravam os soldadinhos europeus. Até eu, quando criança, colocava blusa branca na cabeça fingindo ser uma peruca loura para me parecer com uma paquita. De qualquer forma, Marlene foi muito visionaria, quando criou a Bombom e os meninos do You Can Dance, pois éramos todos negros fazendo parte daquela festa. Ao fazer isso, as meninas e meninos negros também passaram a ter os seus padrões representados na TV.

Sofreu racismo em algum momento? Nunca me senti menosprezada por ninguém lá dentro. Havia sempre um grande esforço de toda a produção para que o grupo todo fosse integrado. Apesar de ser austera, a Marlene sempre deu a mim o mesmo tratamento que dava aos demais colegas, brancos ou negros.

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Você já falou sobre a vontade de ter sido paquita. Chegou a tentar o posto? Quando criança, tinha a fantasia de ser uma paquita, mas vivi boa parte de infância e adolescência num orfanato, não tive oportunidade de me candidatar. Como queria estar perto do mundo da TV, fazia figuração… Digo que ajudei o universo a conspirar a meu favor e, de repente, me vi lá dançando junto com elas. Nunca me senti inferiorizada, pelo contrário, fui percebendo que a personagem Bombom ganhou destaque único, que permanece até hoje como memória de quem viveu o mundo da Xuxa. Gratidão e mais gratidão… São as palavras que mais traduzem meu sentimento.

 

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