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A falta de motivação no combate ao racismo no Brasil nos últimos anos

O antropólogo Jacques D’ Adesky lança livro e conversa com VEJA sobre o que o país tem de diferente das demais nações quanto ao tema

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 jun 2022, 18h43 - Publicado em 11 jun 2022, 12h00

Uma das vozes mais respeitadas quanto a estudos sobre racismo, o antropólogo Jacques D’ Adesky está lançando Uma Breve História do Racismo – Intolerância, Genocídio e Crime contra a Humanidade. Dedicando-se há décadas à produção acadêmica sobre esse tema, Jacques fala a VEJA sobre o perverso problema enraizado na sociedade brasileira. Na próxima segunda-feira, 13, ele lança a obra na Livraria da Travessa em Botafogo, no Rio. Confira o bate-papo:

O que o Brasil tem de diferente em relação a outros países quanto ao tema da discriminação racial?

É com o advento recente das políticas de ação afirmativa que se tomou consciência de modo mais amplo da existência de um racismo no país. Nas décadas 1970 e 1980, a questão do racismo e da discriminação era levantada quase somente por lideranças do Movimento Negro com eco limitado na sociedade.

A população brasileira envelhece cada vez mais, ainda que os ganhos com esse envelhecimento sejam sentidos de forma discrepante entre brancos e negros. Como avalia a velhice da população negra (pretos e pardos)?

De acordo com os dados do IBGE, a população negra tem menor expectativa de vida comparada à população branca. Tendo menor poder aquisitivo no que diz respeito à aposentadoria, a maioria da população negra depende quase exclusivamente do serviço de saúde pública que está sobrecarregada na maior dos estados, portanto oferecendo uma prestação de serviço abaixo da qualidade desejada.

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Há no país um preconceito chamado de “elitismo classista”, onde se um determinado grupo social se coloca superior a outro. O racismo acaba entranhado nisso, já que os negros têm, historicamente, menos oportunidades. É um dilema que ainda vai perdurar gerações?

A política de ação afirmativa implementada no início do século XXI tem precisamente o objetivo de expandir a classe média negra, fortalecê-la, consolidá-la e produzir uma elite múltipla que possa atuar não somente no esporte ou na música, mas no campo econômico e no cenário político do país. Recentemente, fiquei muito admirado em ser atendido na Fiocruz por estagiários negros de medicina que atuavam no setor das doenças epidêmica e tropicais. É imprescindível para as populações negras das periferias e dos subúrbios poderem se espelhar diante de engenheiros, economistas ou advogados negros.

Em recente levantamento de VEJA, somavam-se 124 personagens nas novelas da TV Globo no ar, sendo apenas 17 atores negros, o que corresponde a menos de 14% do total. A TV ainda é “embranquecida”?

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Houve sem dúvida melhora da presença de atores e atrizes negros nas telenovelas e no cinema brasileiro comparado à situação de décadas atrás, quando podia se contabilizar os artistas nos dedos de uma mão. Podemos facilmente nos relembrar de Grande Otelo, Ruth de Souza, Milton Gonçalves, Zezé Motta e Chica Xavier. Nos dias atuais, a lista é maior. Quem sabe, se a televisão e o cinema brasileiro poderão em breve lançar estrelas afro-brasileiras no cenário internacional, como já ocorreu mediante os cantores da MPB como Djavan, Gilberto Gil, Jorge Benjor e Milton Nascimento?

Qual é a melhor forma de se combater a discriminação racial no Brasil?

Isso se faz com maior investimento na educação escolar de qualidade. É de fundamental importância o reconhecimento do aporte histórico à formação cultural e construção da riqueza do Brasil com base no trabalho de africanos escravizados antes e durante o período colonial. 

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Há um retrocesso vigente no país atualmente?

Nesses últimos anos, constata-se uma falta de motivação na condução adequada de uma verdadeira política de promoção da cultura afro-brasileira ao levar em conta o desempenho frágil da Fundação Cultural Palmares, fundada pelo (então) presidente José Sarney (em 1988).

 

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