Bastam cinco minutos nas redes bolsonaristas para descobrir qual é o grande problema do Brasil: não deixam Jair Bolsonaro trabalhar! O Congresso não vota a agenda do governo, o STF ata as mãos do presidente e a mídia só sabe criticar. Pois bem, essa desculpa acaba amanhã.
Com a mais que provável vitória dos bolsonaristas Arthur Lira e Rodrigo Pacheco para as presidências da Câmara e do Senado, respectivamente, o Palácio do Planalto terá o controle da agenda legislativa, impedindo qualquer processo de impeachment, votando os projetos governistas e mudando as leis que impedem o presidente de fazer tudo o que o povo espera dele. Só que não.
Ter o Centrão no comando da Câmara significa ter uma negociação diária de toma-lá-dá-cá, aquele fisiologismo básico que Bolsonaro prometeu acabar quando estava em campanha. Só para eleger Lira e Pacheco, o ministro da Secretaria de Governo, general Eduardo Ramos, transferiu do Ministério de Desenvolvimento Regional R$ 3 bilhões em emendas para 250 deputados e 35 senadores aplicarem em obras em seus redutos eleitorais, como revelaram os repórteres Breno Pires e Patrik Camporez, do Estadão. Isso sem falar nas promessas de ministérios e cargos nas estatais.
Com o Centrão, isso é só o começo. Num ano normal, atender o apetite dos esquemas do Centrão já é complicado. Em 2021, com o país com um déficit público de 800 bilhões beira o impossível. Mas administrar a insaciabilidade do Centrão é apenas parte do problema que Bolsonaro terá depois de comemorar as vitórias de seus candidatos.
Mais difícil será viver sem a desculpa do “não pude fazer mais porque não me deixaram”. Depois que Bolsonaro vendeu ao seu público que terá aliados no Congresso, precisará apresentar soluções para problemas reais, como o controle da nova variante da Covid-19, a bagunça da vacinação e a volta da miséria com o fim do auxílio emergencial. Vão deixar o homem trabalhar. Vamos ver se ele trabalha.