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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Todas as cartas na mesa de Bolsonaro

Alta nos preços dos combustíveis ameaça recuperação do presidente nas pesquisas

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 mar 2022, 09h23 - Publicado em 14 mar 2022, 12h22

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, temem que a alta nos preços combustíveis interrompa a recuperação da popularidade do governo. Desde quinta-feira, quando a Petrobras anunciou um aumento de 19% na gasolina e 25% no diesel, o governo voltou às cordas. Bolsonaro foi massacrado nas redes sociais e até domingo 13 não conseguiu dar resposta que não fosse paliativa. A redução dos impostos federais sobre óleo diesel, aprovado pelo Congresso logo depois do aumento de preços, tem impacto de menos de R$ 0,4 por litro.

Desde janeiro – com o início da distribuição do Auxílio Brasil de 400 reais e o fracasso dos candidatos da direita não-bolsonarista -, a desaprovação ao governo vem caindo paulatinamente. Mais de 60% continuam desaprovando o governo, mas já foi pior. Na corrida eleitoral, Bolsonaro subiu de 24% para 28%, segundo a pesquisa Ipespe divulgada na sexta-feira 11. Segue perdendo para Lula da Silva numa simulação de segundo turno, mas a distância que era de 56% a 31% em janeiro agora é de 53% a 33%. Havia uma expectativa no governo de que essa alta gradual iria prosseguir até a eleição em outubro. Mas no meio do caminho surgiu a Guerra na Ucrânia, com consequências diretas nos preços de combustíveis, trigo e milho. Nesta semana saem duas novas pesquisas que devem detectar o humor do eleitorado sobre o reajuste dos combustíveis, do DataPoder na quarta-feira, 16, e da Quaest, na quinta-feira, 17.

Está claro que o botijão de gás a R$ 150 e o litro da gasolina a R$ 8 é impeditivo para qualquer projeto de reeleição, mas não há soluções simples. Bolsonaro está no modo algo-precisa-ser-feito-urgente, o que sempre é ruim. No mês passado, a inflação passou de 1% pela primeira vez em um fevereiro desde 2015. Em março, com o aumento nos combustíveis, vai ser igual. Nesses três anos de mandato, a popularidade de Bolsonaro sofreu mais com a inflação do que com as mortes por Covid ou ataques à democracia.

O que está sobre a mesa no Planalto:

Decretação do estado de calamidade – Assessores do ministro da Economia, Paulo Guedes, defendem uma segunda versão do orçamento de guerra, a suspensão dos limites fiscais no primeiro ano da pandemia. A decretação de Estado de Calamidade permitiria ao governo aumentar o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 500 por um período inicial de três meses e ainda conceder uma ajuda direcionada aos caminhoneiros, a categoria bolsonarista que ameaça novas paralisações ainda neste mês.

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Subsídio federal para diesel e gasolina – A ideia preferida pela ala política e criticada pelo time de Guedes. Pelo rascunho do projeto feito por assessores de Ciro Nogueira, o subsídio seria pago pelo Tesouro Nacional, que depois recuperaria o dinheiro com os dividendos da Petrobras (em 2021, a União recebeu R$ 37 bilhões em dividendos). O Ministério da Economia não gosta da ideia porque favorece ricos e pobres. A política gosta porque tem impacto direto no humor.

Subsídio para as passagens de ônibus – Temendo protestos como os de 2013, prefeitos defendem que o governo federal pague para manter congeladas as passagens de ônibus urbanos. A Casa Civil tem simpatia pelo projeto.

Zerar impostos federais sobre gasolina – Na semana passada, o Congresso aprovou o zeramento dos impostos sobre óleo diesel. No sábado, Bolsonaro anunciou que pode fazer o mesmo com a gasolina. Paulo Guedes não havia sido avisado.

Controle de Preços – A indicação do ex-diretor do grupo Eike Batista e presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras é uma intervenção do Palácio do Planalto para mudar a política de preços da companhia. Bolsonarista, Landim vai usar o cargo para segurar o quanto puder os reajustes e ajudar a campanha da reeleição. Será um congelamento informal, como no governo Dilma.

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Defesa da Privatização da Petrobras – Para contrabalançar a reação negativa ado mercado ao controle de preços, Bolsonaro pode incluir no programa de campanha a defesa da privatização da Petrobras. Isso não vai afetar a vida de ninguém que vai ao posto encher o tanque, mas vai reduzir o mau humor nos jornais e no establishment.

Fundo de Compensação – Na semana passada, o Congresso aprovou a criação de um fundo federal para compensar as variações nos preços dos combustíveis, a Conta de Estabilização de Preços de Combustíveis (CEP-Combustíveis). A medida funcionará com base num sistema de bandas de preços: quando o preço do petróleo no mercado internacional ultrapassar o valor estabelecido como gatilho, recursos públicos serão utilizados para evitar o aumento dos preços no Brasil. O fundo seria sustentado com dinheiro dos dividendos da Petrobras, royalties e taxas nos leilões de novos campos de petróleo. Como a ideia foi defendida inicialmente pelo ex-ministro Henrique Meirelles, Paulo Guedes é contra.

Nas redes sociais, Bolsonaro está apanhando como há muito tempo. As comparações (na maioria das vezes descontextualizadas) entre os preços dos combustíveis nos governos do PT com os atuais reforça o senso comum de que Bolsonaro não tem plano. E é verdade. No sábado, ele atacou a diretoria Petrobras (que ele indicou) por “não ter sensibilidade” e não ter aguardado as votações de redução de imposto no Congresso para só então ter anunciado o aumento de preços. No domingo, ele mentiu em um congresso de extrema-direita afirmando que a gasolina no Brasil “é a mais barata do mundo”.

Não é só Bolsonaro que está perdido. Na semana passada, a Folha mostrou que o ministro da Infraestrutura e candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas, escreveu a líderes dos caminheiros “achar muito correto” que eles parem para pressionar as transportadoras a reajustarem o valor dos fretes. É inédito um ministro incentivar uma greve.

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