A visita do deputado federal Eduardo Bolsonaro nesta semana ao convescote da extrema-direita americana, em Sioux Falls, no estado da Dakota do Sul, confirmou a parceria da campanha de reeleição de Jair Bolsonaro com o marqueteiro Steve Bannon.
Falando logo depois de Eduardo na convenção extremista, Bannon previu que “Bolsonaro irá vencer, a não ser que a eleição seja roubada, imagine só! Por máquinas!”.
(Uma ironia para os brasileiros foi que, depois do fórum, o próprio Bannon criticou o organizador do evento, o empresário Mike Lindell, por não ter apresentado as prometidas provas das fraudes nas urnas que elegeram Joe Biden em novembro de 2020. “A teoria (da fraude eleitoral) foi apresentada de forma muito convincente”, começou elogiando Bannon, no seu programa na rede Real America’s Voice, “mas é preciso mostrar os recibos (as provas)”. Em suas várias mídias, Bannon tem incentivado republicanos a pressionar o Senado da Pensilvânia a abrir uma recontagem de votos que poderia provar a vitória de Trump no Estado).
Fundador do Breitbart News, site de extrema direita célebre pela disseminação de notícias falsas e conteúdos racistas, estrategista da captação de microdados de milhões de eleitores pela Cambridge Analitica, coordenador da campanha de Donald Trump em 2016, Bannon virou um personagem de segunda-classe da política americana depois de ter sido banido da Casa Branca, em 2017. “Ele pensava que eu dependia dele”, ironizou Trump.
A demissão não reduziu a megalomania de Bannon. Ele se propôs a organizar um movimento para derrubar o papa Francisco ou, pelo menos, ajudar a eleger um cardeal conservador no futuro. Fora da Casa Branca perdeu contratos com republicanos e fez consultoria para partidos direitistas como o Vox espanhol e o Reunião Nacional, da francesa Marine Le Pen.
Ele acompanha o Brasil desde a campanha Bolsonaro. Em 2019, quando o presidente Bolsonaro visitou Donald Trump pela primeira vez, Bannon foi o convidado de honra ao lado do escritor Olavo de Carvalho em um jantar na Embaixada do Brasil em Washington, apesar dos alertas dos diplomatas de que o marqueteiro era persona non grata no trumpismo. Virou o guru de Eduardo Bolsonaro, que se orgulha de ser seu representante na América do Sul da articulação radical The Movement.
“A eleição (de 2022) no Brasil é a segunda mais importante do mundo (atrás dos EUA). Bolsonaro vai enfrentar um criminoso, Lula, o mais perigoso esquerdista do mundo”, discursou Bannon, na Dakota do Sul. Quando Lula foi libertado em 2019, Bannon já previa o risco para Bolsonaro. “Lula é o Lula vai virar um imã para a esquerda global se intrometer na política brasileira. Ele é o poster boy da esquerda globalista”.
Para entender o estilo Bannon basta ouvir as declarações de Bolsonaro depois da derrota da emenda da impressão do voto eletrônico. Perdedor na votação no Congresso, Bolsonaro avançou ainda mais e disse em entrevista aos seus seguidores que “eu não tenho provas, mas soube quem 2014 a ministra Rosa Weber destruiu as provas da fraude nas eleições”. É uma completa mentira, Bolsonaro sabe, mas o que importa é manter acesso entre os radicais a narrativa de um complô no qual o sistema tenta sufocar a vontade real do eleitor, representada apenas por esse líder autêntico.
O bolsonarismo é uma versão tropical do trumpismo, com seu discurso paranoico sobre um complô envolvendo a elite internacional, mídia, universidade, ambientalistas, cientistas e, lógico, o comunismo para impedir que os países se desenvolvam por si mesmos. É trogloditismo que levou os Estados Unidos e o Brasil a se tornarem os dois países com maior número de mortos por Covid-19, articulou a invasão ao Capitólio depois da derrota de Trump e prepara uma quartelada no Brasil em 2022. Steve Bannon é a conexão desses dois mundos.