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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Só restou o debate para Bolsonaro mudar o jogo

Parado nas pesquisas, presidente precisa de vitória no confronto na TV Globo para tirar o favoritismo de Lula

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 set 2022, 10h05
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  • E ao final, sobrou apenas o debate. Nos últimos meses, Jair Bolsonaro protagonizou o mais escancarado uso da máquina pública a favor de uma candidatura em tempos democráticos e colheu resultados fracos. Embora a avaliação do governo esteja melhorando, os indicadores de Bolsonaro só oscilam na margem de erro. É possível que seja suficiente para garantir a ocorrência de um segundo turno, mas não parece avançar além. Nas novas pesquisas, o presidente perde no primeiro turno para Lula da Silva por uma diferença que vai de 15% no Ipec a 6% no PoderData. Ele perde todas as simulações de segundo turno.

    Com menos de duas semanas para o primeiro turno, só restou a Bolsonaro os dois debates ainda não confirmados. No sábado, dia 24, está previsto o debate do pool formado por VEJA e pelas redes de TV SBT e CNN, o jornal O Estado de S. Paulo, as rádios Eldorado e Nova Brasil FM e o portal Terra. O último debate da TV Globo vai ocorrer na quinta-feira, dia 29, três dias antes da eleição. A campanha Lula só confirmou presença na Globo e tudo indica que não irá ao evento do SBT.

    O irônico desta tática é que Bolsonaro é um debatedor ruim. Nos dois encontros da campanha de 2018, ele se perdeu no meio dos falas e não completava os raciocínios. No único debate desta campanha, da TV Band, em agosto, o presidente xingou a jornalista que lhe fez uma pergunta e reforçou a imagem de misógino que lhe acompanha. O voto feminino é o maior problema de Bolsonaro: no Datafolha, ele tem 37% dos votos masculinos, mas só 29% das mulheres.

    No debate da Band, Bolsonaro ganhou boas imagens acusando Lula de corrupção sem que o ex-presidente fizesse uma resposta direta. É difícil imaginar que a situação se repita.

    Lula, que tem um histórico razoável de debates, foi muito mal no debate da TV Band. Ele fugiu do confronto com Bolsonaro na pergunta sobre denúncias de corrupção nos seus governos e parecia não ter treinado para o evento. A candidata Simone Tebet foi a vencedora do debate.

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    Arriscar as últimas fichas nos debates demonstra o zigue-zague da campanha bolsonarista. A campanha tentou reduzir a vantagem de Lula entre os mais pobres e fracassou. O antipetismo que ocupa 100% da propaganda eleitoral de Bolsonaro na TV pode animar sua turma, mas não ganha um voto novo. A campanha tentou amainar a rejeição de Bolsonaro entre as mulheres e o próprio candidato sabotou o plano. A única tática que deu certo foi a ofensiva sobre os evangélicos, segmento no qual o apoio ao presidente é sólido. É pouco para virar o jogo.

    Nos últimos meses, a campanha oficial já tentou todo o manual eleitoral para aumentar seus índices nas pesquisas:

    – Fez o Congresso aprovar uma renúncia fiscal irresponsável para tirar dinheiros dos Estados e reduzir o preço da gasolina

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    – Mudou a legislação para permitir propaganda oficial dos ministérios durante o período eleitoral, o que facilita o repasse para emissoras de TV e rádios amigas

    – Às vésperas da eleição, reajustou Auxílio Brasil para 600 reais

    – Aumentou de 18 milhões para quase 21 milhões o número de famílias do Auxílio Brasil

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    – Permitiu que essas famílias tomem dinheiro emprestado dando o Auxílio Brasil como garantia

    – Criou um vale para taxistas e outro para caminhoneiros

    – Disseminou o boato que Lula fecharia igrejas evangélicas se vencer as eleições

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    – Espremeu as contas para liberar 8 bilhões de reais extras em emendas do Orçamento Secreto para os deputados amigos

    – Transformou os festejos do Sete de Setembro no maior comício eleitoral da campanha

    Com regras rígidas de tempo de respostas e a obrigação de convidar vários candidatos sem chances, os debates eleitorais são modorrentos. É fácil para um candidato com foco e tranquilidade sair-se bem. Em duas eleições, no entanto, os debates mudaram o rumo das eleições. Em 2006, Lula cancelou sua participação na última hora e a ausência ajudou Alckmin a passar dos 40% no primeiro turno. Em 2014, Marina Silva chegou a última semana com o dobro das intenções de votos de Aécio Neves, mas foi tão mal nos debates das TVs Record e Globo que terminou fora do segundo turno. Bolsonaro vai tentar uma virada similar.

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