Entre 2015 e 2017, nenhum brasileiro concentrava tanto poder quanto o então juiz da Lava Jato Sergio Moro. Hoje, seis meses de ser forçado a pedir demissão do governo Bolsonaro, o agora ex-juiz encolheu. O inquérito com a sua denúncia de que Bolsonaro pretendia intervir na Polícia Federal para proteger seus filhos não foi concluído pelo ex-ministro do STF Celso de Mello e deve ser arquivado sem responsabilizar o presidente. Sem cargo e holofote, o ex-juiz foi perseguido pela milícia digital bolsonarista e virou um pária entre os políticos, os mesmos que antes o sondavam para ser candidato a presidente.
Nesta terça, Moro participou por videoconferência de um evento na Câmara dos Deputados para debater a proposta de emenda à Constituição (PEC) que decreta a prisão para condenados em segunda instância, a polêmica que permitiu a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha de 2018. “Os níveis de percepção da corrupção (no governo Bolsonaro) não caíram como nós imaginaríamos que poderiam cair. Havia um grande impulso para aprovação da PEC. Arrefeceu um pouco, precisa ser retomada”, afirmou Moro. Com Moro abatido, o projeto de mudança da lei de execução de penas está virando água.
Pesquisa da consultoria Bites quantificou a diminuição do poder político de Moro. Na eleição de 2018, foram registrados 6.200 anúncios no Facebook nos quais a palavra combate à corrupção era o destaque, com 93 citando pessoalmente o nome de Moro. A ex-juíza Selma Arruda e elegeu senadora por Mato Grosso se apresentando como “Moro de Saias” e uma dúzia de aproveitadores colocaram o sobrenome no nome para atrair parte da popularidade do juiz. Nesta campanha municipal, os anúncios sobre corrupção caíram ao patamar de 2.900 e apenas uma candidata a vereadora, Amália Tortato que disputa uma vaga na Câmara de Curitiba, fez dois anúncios citando o ex-juiz. Em São Paulo, a única candidata que o cita é Joice Hasselmann, que não passa de 1% dos votos.
Esse ocaso de Sergio Moro coincide com a decadência da Lava Jato, iniciado quando o site The Intercept Brasil publicou gravações de conversar do então juiz instruindo os procuradores sobre como proceder nas investigações. Mas é paranoia responsabilizar os jornalistas pela queda de Moro e da Lava Jato. Eles foram seus próprios algozes.
Os procuradores ao transformar a operação em uma perseguição parcial, protegendo aliados políticos e investigando adversários, enquanto tentavam controlar um fundo bilionário a partir das indenizações pagas pela Petrobras nos Estados Unidos. Moro ao aceitar ser ministro de Jair Bolsonaro e demorar quase um ano e meio para perceber que estava sendo usado para lustrar o verniz de um governo formado a base de rachadinhas e milícia digital.
Embora falte dois anos para as eleições de 2022, Moro segue aparentando ser um candidato viável. No geral, ele está em segundo lugar empatado tecnicamente com o ex-prefeito Fernando Haddad, do PT, mas é o único que em um eventual segundo turno vence de Jair Bolsonaro. Só que para ser candidato, Moro precisa saber jogar o jogo da política.
Isso significa usar o seu prestígio para falar com eleitores e ouvi-los. Foi assim que Bolsonaro iniciou a sua campanha em 2015. Sem partido e estrutura, mas como uma gigantesca determinação. Se Moro quiser ter uma influência real no debate político vai ter de arregaçar as mangas, assumir os erros que fez e trabalhar, trabalhar muito.