O presidente Jair Bolsonaro não quer demitir o ministro da Economia, Paulo Guedes. Nem Paulo Guedes quer pedir demissão. Então podemos arquivar as polêmicas da semana passada sobre “debandada” no Ministério da Economia, os ataques de Guedes aos “ministros fura-teto” e a sugestão do presidente de que o mercado deveria ser “patriótico” e entender a necessidade de o governo gastar mais em obras sociais? Não. Guedes não está seguro no cargo. É altamente provável que ele permaneça como ministro, mas enfraquecido.
Quando Guedes atacou os “ministros fura-teto” (como denominou aqueles que pretendem abrir brechas na Lei do Teto de Gastos), muita gente entendeu que ele se referia a Rogério Marinho (titular da pasta do Desenvolvimento Regional) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura). Marinho e Freitas são apenas bois de piranha. Quem realmente trabalha pela queda de Guedes são os ministros generais, liderados pelo chefe da Casa Civil, Braga Neto. São eles que detêm o ouvido e a atenção do presidente para convencê-lo de que Guedes deixou de ser indispensável.
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Clique e AssineDesde o início do governo Bolsonaro, Guedes tem tido quedas-de-braço com os militares. Até agora, perdeu todas. A reforma da previdência militar é uma ilusão. É um reordenamento do plano de carreiras dos oficiais das três Forças, com reajustes de soldo e vantagens que aumentarão em R$ 10 bilhões as despesas da União com os servidores militares da ativa e reserva em dez anos. Ainda em 2019, quando Guedes era poderoso, a Marinha conseguiu criar uma nova estatal para construir fragatas. No orçamento de 2020, pela primeira vez, o Ministério da Defesa impôs um artigo que proíbe a retenção das verbas para as Forças Armadas, assegurando a liberação de recursos para projetos como o submarino nuclear e os novas caças FX. Para o ano que vem, o projeto do Orçamento prevê que o Brasil vá gastar mais dinheiro com o Ministério da Defesa do que o Ministério da Educação. Segundo a previsão, os gastos com Defesa vão subir de R$ 73 bilhões para R$ 108,56 bilhões, uma alta de 49%, inacreditável para um País sob recessão.
Em março, quando a pandemia se instalou e Guedes se trancou em seu apartamento no Rio, os generais liderado por Braga Neto começaram a discutir como o País sairia da recessão que se avizinhava. Chamados a colaborar, os ministros Marinho e Freitas trouxeram a lista de obras federais paradas e que poderiam servir de indutor de emprego e crescimentos. Dessa colcha de retalhos nascia o Pro-Brasil, um plano que em tudo lembra o intervencionista estatal do PAC dos governos do PT e os PNDs do regime militar. Na agora histórica reunião ministerial de 18 de abril, Guedes foi na jugular de Braga Neto e do Pro-Brasil. “Se a gente quiser acabar igual a Dilma, a gente segue esse caminho”, ironizou Guedes. Ali o ministro comprou um inimigo para sempre.
Braga Neto e seu colega o general Luiz Ramos, ministro da Secretaria Geral, são os artífices do “novo Bolsonaro” que emergiu em julho, a partir da prisão do faz-tudo Fabrício Queiroz. O presidente suspendeu o confronto com o Supremo Tribunal Federal, ampliou o acordo com Centrão e assumiu a paternidade do Auxílio Emergencial de R$ 600, o benefício que os generais gostam de lembrar que se dependesse de Guedes seria de apenas R$ 200. Deu certo e, apesar dos 108 mil mortos por Covid-19, Bolsonaro voltou a ser favorito para as eleições de 2022.
Guedes, portanto, está sob ataque no mesmo momento que os seus principais adversários estão fortalecidos. Isso significa que ele vai cair? Não necessariamente, mas é fato que ele perdeu a aura de infalibidade que o cercava no início do governo. A história recente do Brasil mostra que presidentes populares tendem a preferir ouvir mais os otimistas e ignorar os cautelosos.
A situação de Guedes lembra uma anedota contada pelo economista Luis Paulo Rosenberg, que foi assessor de José Sarney e consultor de sucesso: “Um político chama dez economistas. Nove dizem que as coisas vão mal e pedem medidas duras. O político olha e diz: ‘São nove urubus’. Chega o último economista e diz ‘Está ruim, mas pode melhorar’.” Rosenberg concluía: “Este último, que disse que o político queria ouvir não é urubu, é canário. O político adora uma canarinho”. Guedes virou um urubu.
Outro lado
Em nota, a Marinha do Brasil (MB) esclarece que a Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON) não foi criada em 2019, tampouco pela MB. A EMGEPRON foi criada pela Lei nº 7.000, de 9 de junho de 1982, como empresa pública vinculada ao Ministério da Defesa, por intermédio do Comando da Marinha, com as seguintes finalidades:
I – promover a indústria militar naval brasileira e atividades correlatas, abrangendo, inclusive, a pesquisa e o desenvolvimento;
II – gerenciar projetos integrantes de programas aprovados pelo Comando da Marinha; e
III – promover ou executar atividades vinculadas à obtenção e manutenção de material militar naval