Está em curso uma gradual recuperação de Bolsonaro nas pesquisas, acompanhando os efeitos das várias intervenções eleitorais do governo na economia. O preço dos combustíveis caiu em média 20% com o limite da cobrança do ICMS aprovado contra a vontade dos governadores, e em agosto começa o pagamento do valor extra de 200 reais no Auxílio Brasil para 18 milhões de famílias. Mais de 5 milhões de famílias vão receber o dobro do valor do vale-gás, 1 milhão de caminhoneiros vão receber um voucher-combustível e 1 milhão de estudantes tiveram perdoadas as suas dívidas com o crédito universitário do ProUni.
Com a redução dos impostos sobre combustíveis, a inflação deve ser negativa em julho e tende a reduzir seu ritmo neste segundo semestre. A taxa de desemprego caiu pelo nono mês consecutivo (é equivocado comparar com os governos anteriores porque os critérios sobre emprego foram amaciados por Paulo Guedes) e os bancos estão revisando o PIB para 2% (chegaram a estimar zero quando estourou a guerra na Ucrânia).
Tudo posto, não há nenhuma ação única que mude o curso do jogo, mas juntas elas aliviam um pouco o mal-estar econômico, que era o principal dínamo da campanha Lula. É natural que o governo passe as próximas semanas explorando esses avanços e dando a Bolsonaro a paternidade do Auxílio Brasil de 600 reais.
A possibilidade de Lula da Silva vencer no primeiro turno também termina por, ironicamente, ajudar Bolsonaro. Como não há um terceiro protagonista, os eleitores antipetistas vão antecipar seu voto útil a favor do presidente para forçar um segundo turno.
As duas pesquisas divulgadas na semana passada mostraram estabilidade nas intenções de voto, mas esse empate é uma vitória de Bolsonaro. Manter seu tamanho no mês da prisão de um ex-ministro por corrupção, da demissão do presidente da Caixa Econômica Federal por assédio sexual e de um novo aumento da gasolina (depois compensada pelo corte no ICMS) é uma prova de resiliência. No PoderData, Lula 44% x 36% Bolsonaro. Na Genial/Genial, Lula 45% x 31% Bolsonaro.
O PoderData mostrou que a aprovação do governo entre quem recebeu algum pagamento do Auxílio Brasil cresceu 15 pontos porcentuais desde maio e agora é de 46%. A desaprovação era de 59% e caiu para 49%. O progresso bolsonarista comprova como os beneficiários do Auxílio Brasil demoram meses para mudar de opinião. Em 2020, foram cinco meses para os beneficiários do programa passarem a aprovar Bolsonaro.
De acordo com a pesquisa Genial/Quaest, 42% dos eleitores dizem que o presidente está fazendo o que pode para impedir o aumento no preço dos combustíveis, bem mais do que os 31% que se dizem eleitores de Bolsonaro. 60% disseram saber que o presidente está tentando aumentar o Auxílio Brasil para 600 reais; 54%, que ele demitiu o presidente da Petrobras; 46%, que quer criar subsídios para os caminhoneiros; e 45%, que ele é o responsável pelo corte do ICMS.
O que Bolsonaro fez para inverter a tendência de derrota inevitável é inédito na democracia. Em dois meses, ele estourou a lei do Teto de Gastos, atropelou a legislação eleitoral, que impede benefícios às vésperas do pleito, enfrentou os governadores, mudou o presidente da Petrobras pela quarta vez, adiou para depois das eleições a CPI que investigaria a corrupção no Ministério da Educação e editou renúncias tributárias de IPI e IOF de 40,8 bilhões de reais para 2023. Bolsonaro nunca teria conseguido isso sem a ajuda do presidente da Câmara, Arthur Lira, do Senado, Rodrigo Pacheco, e do seu estrategista-mor, Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil.
Apertar todos os botões ao mesmo tempo deve dar a Bolsonaro um fôlego suficiente para chegar vivo ao início da campanha de rádio e TV, em 26 de agosto. Com cerca de 6 minutos de TV a cada dois dias, Bolsonaro vai então poder convocar suas manifestações contra a Justiça Eleitoral no 7 de setembro e empurrar a eleição para uma disputa de rua. A morte do militante petista em Foz do Iguaçu é um prenúncio do que pode vir a ser uma campanha eleitoral mais renhida.