O primeiro é um Capuleto. O outro, Montequio. As suas famílias, duas casas de igual dignidade, reativaram antiga inimizade, manchando mãos fraternas, sangue irmão. Há quase dois meses, o amor outonal entre Lula da Silva e Geraldo Alckmin se revela em encontros feitos às escondidas, sob o patrocínio de três amigos comuns e os riscos de revanche de dezenas inimigos dos dois lados. Assim com o romance impossível dos jovens nobres da Verona de Shakespeare, é provável não haja final feliz, mas como na peça a torcida é grande.
Pesquisa inédita da Quaest, encomendada pela corretora Genial, mostra que para 64% dos brasileiros não faz diferença se Alckmin ser o candidato a vice-presidente na chapa de Lula da Silva. Porém, os lulistas aprovam a aliança:
· 20% dos que preferem que Lula vença estariam mais propensos a votar se Alckmin fosse o vice. Nesse contingente, só 10% reprovam o acordo; Para 65% é indiferente.
· 19% dos que já pretendem votar em Lula defendem o acordo; 10% são contra.
É um sinal forte em uma conjuntura que, segundo a pesquisa, mostra uma situação privilegiada para Lula. Nas simulações da Quaest/Genial, ele tem hoje mais de 50% dos votos válidos em todos os cenários. No mais provável a situação é a seguinte:
Lula 47%
Bolsonaro 24%
Moro 10%
Ciro 5%
Doria 2%
Pacheco 1%
Branco/Nulo/Não vai votar/Indeciso 12%
Único candidato com lugar quase assegurado no segundo turno, Lula tem uma vantagem sobre os adversários no mano-a-mano:
Lula 55%
Bolsonaro 31%
Branco/Nulo/Não vai votar/Indeciso 14%
Lula 53%
Moro 29%
Branco/Nulo/Não vai votar/Indeciso 18%
Lula 54%
Ciro 21%
Branco/Nulo/Não vai votar/Indeciso 26%
Lula 57%
Doria 14%
Branco/Nulo/Não vai votar/Indeciso 29%
Mas como com Romeu e Julieta, nem o amor, nem o interesse eleitoral são capazes de, sozinhos, suplantar a realidade. Além de exigir que os dois lados esqueçam décadas de desavenças, o acordo de Lula e Alckmin depende de uma concessão do PSB, o partido para o qual o ex-governador de São Paulo se filiaria. O PSB topa abrigar Alckmin, mas quer como retribuição a retirada da candidatura do ex-prefeito petista Fernando Haddad e apoio a Marcio França como candidato a governador de São Paulo. O PT, que sempre disputou as eleições paulistas com candidato próprio (e sempre perdeu), vai chiar.
A pesquisa Ipespe sobre as eleições de São Paulo, divulgada na sexta-feira (03/12) traduz em números as dúvidas de Alckmin entre ser o candidato a vice-presidente ou a governador de São Paulo. Segundo o Ipespe, Alckmin teria hoje 23% das intenções de votos, ante 19% do ex-prefeito Haddad (PT), 14% do ativista Guilherme Boulos (PSOL), 8% do ministro Tarcísio Freitas (PL) e 3% do vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB).
É consenso no meio político que a máquina estadual fará Rodrigo Garcia crescer, enquanto Tarcísio Freitas vai ganhar pontos com sua vinculação a Bolsonaro. Os eleitores de esquerda de Haddad e Boulos devem se direcionar ao final para aquele que tiver mais chance. Alckmin já foi governador de São Paulo quatro vezes, mas sempre com a máquina do Estado na mão. Dessa vez, ele não terá nem máquina, nem partido estruturado.
Alckmin segue sendo o favorito ao governo de São Paulo. Basta o vice Rodrigo Garcia não deslanchar e os prefeitos cairão todos no seu colo por gravidade, mas nada está assegurado. O que ele tem na mão hoje é uma liderança frágil em um ambiente complexo. Como num drama elisebetano, qualquer decisão equivocada pode encadear uma tragédia.