O PT decidiu trocar o marqueteiro da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. Augusto Fonseca, escolhido há menos de três meses deve ser substituído por Sidôneo Pereira, que cuidou das campanhas vitoriosas de Jaques Wagner e Rui Costa na Bahia e da derrota de Fernando Haddad contra Jair Bolsonaro em 2018. A troca é mais um capítulo na disputa entre a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro Franklin Martins pela coordenação da campanha Lula.
Há semanas, o PT tem vazado à imprensa queixas contra Fonseca e Martins. Ora, o problema era a “falta de emoção” das primeiras peças publicitárias da propaganda do PT no TV, ora o centralismo de Martins. Pura cortina de fumaça. Como mostrou a repórter Andréia Sadi o problema era dinheiro, quem vai pagar e quanto. Na terça-feira, depois de anunciar um acordo para ter o apoio do partido Solidariedade a Lula, Gleisi Hoffmann havia antecipado que a campanha de Lula passaria por “ajustes”.
No novo desenho, Sidôneo Pereira vai cuidar dos programas de TV e rádio, enquanto a equipe de Franklin Martins vai cuidar das redes sociais e o Instituto Lula da assessoria de imprensa. Todos abaixo da coordenação nacional _ onde estão Lula, Gleisi Hoffmann, Franklin Martins, os ex-ministros Aloizio Mercadante, Luiz Dulci, os ex-governadores Jaques Wagner e Wellington Dias e os deputados Rui Falcão e Marcio Macedo.
A troca de marqueteiro coroa semanas de declarações improvisadas de Lula, da defesa do aborto à ataques à classe média. Centralizador como nunca foi em campanhas anteriores. Decisões simples como o lançamento da pré-campanha já foram adiadas quatro vezes. A próxima data é 7 de maio. O programa econômico ainda está sendo rascunhado e dificilmente será divulgado no mês que vem. A chegada do candidato a vice Geraldo Alckmin causou mais ruídos internos no PT do que Lula imaginava.
Augusto Fonseca foi escolhido para ser o marqueteiro por Franklin Martins no final de janeiro. Pelo contrato, Fonseca cuidara das peças de rádio e TV, enquanto Martins tocaria a coordenação geral de comunicação, além do tom político dos discursos. Amigo de Lula e com acesso direto ao ex-presidente, Martins só dava satisfações ao chefe. Quando chegou, acabou com a distribuição para os deputados do PT dos relatórios de monitoramento de redes sociais, alegando que os havia informações sensíveis. Os deputados se sentiram ofendidos. Depois, passou a enviar ideias para as entrevistas de Lula apenas ao presidente, alijando Gleisi Hoffmann, que formalmente é a coordenadora geral da campanha.
O estopim do conflito surgiu quando Augusto Fonseca apresentou o orçamento para a campanha perto de R$ 40 milhões, segundo mostrou o repórter Sergio Roxo, de O Globo. É um valor fora da realidade das campanhas com financiamento público. Para comparar, em 2018 o limite máximo de gastos autorizados pelo TSE para as campanhas presidenciais foi de R$ 70 milhões. Neste ano, o orçamento deve ficar em R$ 100 milhões. Não há como supor que a TV vá gastar sozinha 40% dos gastos com a campanha.
O valor foi rediscutido várias vezes nas últimas semanas e terminou reduzido entre R$25 milhões e R$ 30 milhões, mas a disputa por poder escalou. As intrigas contra Fonseca e Martins geraram um clima de não-retorno. Franklin Martins ameaçou deixar a campanha, o desejo velado dos dirigentes do PT. Isso só não aconteceu por interferência de Lula. Agora, o candidato terá de mediar o cotidiano de conflitos internos.