Duas pesquisas divulgadas nesta semana dão Lula da Silva com mais votos que todos os seus adversários somados. No IPEC (antigo Ibope), Lula tem 49%, Jair Bolsonaro 22%, Sergio Moro 8%, Ciro Gomes 5% e João Dória 3%. No Datafolha, a variação é na margem de erro: Lula tem 48%, Jair Bolsonaro 22%, Sergio Moro 9%, Ciro Gomes 7% e João Dória 4%. Se as eleições fossem hoje, dizem as duas empresas, Lula venceria no primeiro turno.
O PT nunca venceu no primeiro turno nem quando estava no governo, mas a vantagem detectada nas pesquisas responde ao empobrecimento dos brasileiros depois da pandemia de Covid-19 e da ação dos governos Lula contra a miséria. Nenhum outro político viveu a miséria como Lula, mas é sintomático que nenhum outro está falando aos mais pobres como Lula.
O Brasil é um país pobre. Pouco mais da metade dos 147,9 milhões de eleitores recebe menos de R$ 2.200,00 por mês, dois salários mínimos. É a faixa da população mais afetada pelo medo da miséria, inflação, desemprego e subemprego e a desestrutura do sistema de saúde. Num país com 615 mil mortes por Covid, inflação de 10% e desemprego de 13%, qualquer candidato que não enxerga para além dos analistas do centro financeiro da Faria Lima e dos aquários dos editores de jornais está fadado ao fracasso.
Entre os que recebem até dois salários mínimos, Lula tem 56%, 40 pontos percentuais de vantagem sobre Bolsonaro. Entre quem procura emprego, o petista tem 62% das intenções de voto no primeiro turno, contra 16% de Bolsonaro. No Nordeste (67% dos eleitores com renda de até dois salários), Lula aparece com 61%, contra 17% do atual presidente (todos números da pesquisa Datafolha). O Ipec mostrou que reprovação ao governo Bolsonaro é de 71% entre os mais pobres. Perguntados quais são suas maiores preocupações, 21% dos entrevistados disseram que é a fome e a miséria (para comparar, a corrupção foi citada por 17%). É a primeira vez desde 2002 que a miséria se torna uma das cinco maiores preocupações dos brasileiros no histórico do Ipec/Ibope.
Bolsonaro tem como crescer entre os mais pobres com o Auxílio Brasil de R$ 400, embora o número de beneficiados seja menos da metade dos auxílios emergenciais lançados ao longo da pandemia. O salário mínimo vai subir e a Caixa Econômica prepara um gigantesco projeto de crédito subsidiado para pobres. Esse pacote só vai funcionar se a inflação parar de corroer os ganhos, mas ao menos Bolsonaro está usando o poder público para chegar aos mais pobres.
Ciro Gomes que poderia falar sobre combate a miséria pelos números impressionantes de melhoras sociais nos governos do Ceará caiu na esparrela de chamar a política de Lula de “política da picanha e cerveja”, na prática trazendo ao eleitor uma memória boa do governo petista. Chega a ser amador.
Pior são os dois candidatos da chamada Terceira Via. Sergio Moro apareceu com a ideia espetaculosa de uma Força Nacional de Erradicação da Pobreza, coisa de marqueteiro que não sabe que existe um ministério exclusivo de políticas sociais, o da Cidadania. Moro fala sobre os pobres como a intimidade de quem só viu uma favela no trajeto do aeroporto de São José Pinhais até sua casa, em Curitiba.
Mais grave é João Doria, responsável pelo início da vacinação contra Covid que salvou milhares, pobres e ricos. Mas Doria não fala sobre ou para os mais pobres.
Um aforisma conhecido na política diz que governar é tocar violino, você pega com a esquerda e toca com a direita. É impossível governar no Brasil sem falar para a Faria Lima, os Jardins, o Leblon e o Lago Sul. Mas ninguém ganha se não convencer o Largo da Batata, a Rocinha, Jardim Ângela e Cabrobó.