A escolha de um general como candidato a vice, a improvisação no projeto para aumentar o Auxílio Emergencial e as recentes demonstrações de apoio de parte da elite ao candidato Lula da Silva transformaram a campanha de reeleição de Jair Bolsonaro em um ‘salve-se quem puder’. Faltando menos de 100 dias para o primeiro turno, a campanha de Bolsonaro parece reduzida a duas táticas, simultâneas e contraditórias: jogar dinheiro do céu com o aumento de R$ 400 para R$ 600 do Auxílio Brasil e acirrar a possibilidade de contestação violenta a uma eventual derrota.
O sinal mais evidente do temor de uma derrota bolsonarista é o projeto do presidente Arthur Lira de transformar em obrigatórias as emendas do relator do Orçamento de 2023, uma espécie de seguro para que o Centrão mantenha o seu poder sobre a liberação de verbas públicas na hipótese de Lula vencer as eleições. Batizado de “orçamento secreto” por terem baixa transparência e nenhuma proporcionalidade no formato de distribuição, as emendas de relator atingiram o valor recorde R,5 bilhões neste ano. Lula já anunciou que se eleito tentará acabar com as emendas de relator. Na prática, o orçamento secreto retirou do Executivo um de seus instrumentos mais eficientes na cooptação de apoio parlamentar, a distribuição das verbas públicas nos redutos eleitorais dos deputados. Se pararam a depender do presidente e dos ministros, os congressistas precisam agora boa vontade de Arthur Lira e do presidente do Senado, Alexandre Pacheco, para levarem obras aos seus redutos eleitorais.
O Centrão quer reeleger Bolsonaro, mas muito importante é manter uma bancada acima de 200 deputados e ter o controle do Congresso seja qual for o governo. Se dependesse de Ciro Nogueira, Valdemar da Costa Neto e Arthur Lira, os ícones do Centrão, o aumento do Auxílio teria ocorrido já em abril. Isso só não ocorreu pela resistência de Paulo Guedes em explodir mais uma vez a Lei do Teto de Gastos, até que ficou claro para o presidente a água passou do pescoço. A benesse faltando tão pouco tempo para as eleições pode não ser suficiente para ajudar o presidente, mas certamente será usada pelos deputados do Centrão junto ao seu eleitorado.
A postura do cada um por si do Centrão foi acentuada nesta semana, depois que Bolsonaro confirmou que o general Braga Neto será seu companheiro de chapa. Braga Neto não traz um único voto que Bolsonaro já não tivesse e sua escolha comprova que o presidente acha o apoio das Forças Armadas mais importante que o dos políticos em caso de derrota em outubro. A tática da intimidação foi explanada pelo filho mais velho do presidente, senador Flavio Bolsonaro, em entrevista ao Estadão. “Essa resistência do TSE em fazer o processo mais seguro e transparente (sob o ponto de vista bolsonarista) obviamente vai trazer uma instabilidade. E a gente não tem controle sobre isso. Uma parte considerável da opinião pública não acredita no sistema de urnas eletrônicas”, disse Flavio. A declaração é um incentivo do filho do presidente para manifestações supostamente espontâneas de não aceitação de uma eventual derrota. Isso não é ‘apito de cachorro’, a expressão da política para uma mensagem reconhecida por quem conhece aquele sinal, mas que passa batido pelo público geral. É uma fanfarra militar.
É inédito que um presidente candidato à reeleição esteja em situação tão frágil faltando tão pouco tempo para o primeiro turno. Em julho de 1998, o então presidente FHC somava 40% contra 28% do oposicionista Lula, segundo o Datafolha. Em 2006, o agora presidente Lula vencia Geraldo Alckmin por 44% a 28%. Em 2014, Dilma Rousseff recebia 38% das intenções de voto e Aécio Neves 20%. Na pesquisa Datafolha da semana passada, Lula na oposição tem 47% ante 28% do situacionista Bolsonaro, números que se confirmados darão a vitória ao petista no primeiro turno. Em todas as pesquisas, Lula derrota Bolsonaro nas simulações de segundo turno. A campanha oficialmente só começa em agosto, mas Bolsonaro está entrando julho com uma campanha contraditória e improvisada. Lula agradece.