O anúncio de Jair Bolsonaro de que não receberia o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, na segunda-feira em Brasília, por ele ter antes uma agenda com Lula da Silva é apenas um pretexto. O motivo real para Bolsonaro gerar um incidente diplomático é evitar que o presidente português esteja no Brasil nas comemorações dos 200 anos de independência, em 7 de Setembro, presença que poderia amarrar Bolsonaro no que pode ser o auge da sua campanha pela reeleição.
No encontro com Bolsonaro, Rebelo iria confirmar que Portugal concordou em transladar o coração do imperador D. Pedro 1 para o Brasil para as comemorações, mas os planos bolsonaristas são outros. Há semanas, o bolsonarismo convoca manifestações para o 7 de setembro para ameaçar uma ruptura institucional como já foi feito no Dia da Independência do ano passado.
Antes do cancelamento do encontro, o ministro general Luiz Ramos disse à agência France Presse que a presença do português obrigaria Bolsonaro a mudar o tom do 7 de Setembro. “Não tem clima para ir num carro de som, botar o presidente de Portugal do lado como ele fez em São Paulo ou Brasília (em 2021). (A presença do presidente português) É quase uma vacina, um remédio que vai certamente permitir que ele (Bolsonaro) seja mais institucional”, disse Ramos. Na entrevista, o general Ramos, amigo de Bolsonaro desde os anos 1970, admitiu que existem riscos de ruptura institucional. “Não vou tentar fugir do tema, os radicais de um lado e do outro. A preocupação é sobre todos. O presidente não é radical, ele tem os discursos dele e tal.”
No domingo, Rebelo de Souza se encontrou com o ex-presidente Lula da Silva, visitou a Bienal do Livro e participou de uma solenidade comemorativa dos 100 anos da primeira travessia aérea do Atlântico Sul. Nesta segunda, ele tem agenda com os ex-presidentes Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso.