Na reunião desta quarta-feira com as centrais sindicais, o presidente Lula da Silva fez um ilusionismo, a performance do mágico de entreter o público com uma ação espantosa com uma mão, enquanto a outra mão faz o truque real. Na reunião, Lula disse aos sindicalistas que (1) eles definirão juntos as regras de reajuste do salário mínimo a partir do ano que vem; e que (2) ressuscitou a promessa de campanha de aumentar a isenção do imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil.
Os sindicalistas aplaudiram e o mercado entrou em parafuso. O dólar, que estava cotado em R$ 5,07 antes do discurso do presidente, subiu para R$ 5,15 em dez minutos.
Na fala, Lula voltou ao mantra de que o seu governo é para os mais pobres: “A verdade é que o pobre de hoje, que ganha R$ 3 mil, proporcionalmente ele paga mais do que alguém que ganha R$ 100 mil. Até porque quem ganha muito paga pouco. Quem ganha muito recebe como dividendo, recebe como lucro, como qualquer coisa para pagar pouco imposto de renda”, discursou.
Pura fumaça. A promessa sobre o reajuste das alíquotas de imposto de renda foram feitas várias vezes na campanha, mas ainda não tem definição. O plano mais provável prevê que nada será mudado no pagamento do imposto deste ano e que as mudanças serão progressivas até 2026.
Sobre o salário mínimo, as centrais foram ao presidente para pedir que o novo valor fosse de pelo menos R$ 1.340. Lula negou. Disse que o valor atual, de R$ 1.302, será mantido pelo menos até maio e que a definição só será dada em abril, depois de o Ministério da Previdência apresentar um cálculo atualizado dos gastos sobre as aposentadorias concedidas às pressas no fim do governo Bolsonaro. A possibilidade mais provável que dar um aumento para R$ 1.320, como foi anunciado pelo ministro Wellington Dias ainda em novembro, significa que o governo terá de cortar cerca de R$ 9 bilhões de gastos nos ministérios.
Lula fez um discurso populista, mas nenhuma ação nova foi tomada.