Nas últimas semanas, acompanhei cinco pesquisas qualitativas em São Paulo (2), Rio de Janeiro, Londrina e Recife para entender o que faz um candidato ser rejeitado em qualquer situação. Encomendada por um banco de investimento, as entrevistas com eleitores que se dizem indecisos pretendiam mensurar os pontos fracos de Lula e Bolsonaro em um eventual segundo turno. Um resumo:
Bolsonaro
Quando perguntados qual a primeira palavra que lembram ao ouvir o nome Lula, os eleitores citam fatos do seu governo: Bolsa Família, picanha e cerveja, Minha Casa Minha Vida, Pro-Uni, mensalão e Lava Jato.
Quanto a pergunta é sobre Bolsonaro, quase todas as respostas são características do presidente: insensível, grosseiro, egoísta, autêntico e sincero.
Quando o tema é a pandemia da Covid19, os eleitores se dividem sobre as interdições do comércio e a queda na economia, mas virtualmente todos atacam o presidente por não ter demonstrado empatia com as vítimas. Algumas frases ouvidas nas entrevistas: “Ele só protege os filhos”, “não pensa nos outros”, “ficou rindo dos doentes”.
Mas hoje a pandemia mobiliza menos os eleitores indecisos do que a inflação, o preço do leite e da gasolina, o aumento da miséria nas ruas e a dificuldade para pagar as cotas. Embora parte dos entrevistados concorde que a pandemia e a guerra na Ucrânia são responsáveis pelo mau humor econômico, Bolsonaro é considerado alguém que “não fez tudo que podia” e “não mostrou solidariedade”.
Nos grupos, as ameaças de golpe não geram o frenesi das redes sociais. Virou senso comum para os entrevistados que a possibilidade de o presidente provocar um rompimento institucional é “da boca pra fora”.
Lula
A principal questão da média dos entrevistados com Lula é a corrupção. Todos os pesquisados sabiam que os processos da Lava Jato haviam sido anulados e que o ex-presidente recuperou os direitos políticos, mas mesmo entre os que simpatizam com ele há dúvidas sobre sua inocência.
Em uma eleição padrão, a fixação do seu nome com corrupção seria fatal, mas não em 2022. Depois do desapontamento com a Nova Política prometida por Bolsonaro, o eleitor está mais cínico. Foram repedidas frases como “Lula fez o que todos fazem”, “só pegaram ele e deixaram os filhos do Bolsonaro em paz” e o clássico “rouba, mas faz”.
É importante observar que a recessão de 2014-16 no governo Dilma Rousseff não cola em Lula. Dilma é um assunto tabu, que sempre vem acompanhada de uma oração adversativa. “É honesta, mas…”, “não roubou, porém…”
O arsenal padrão do bolsonarismo de atacar Lula porque em um novo governo do PT o aborto seria legalizado e a ‘ideologia de gênero´ tomaria conta das escolas é infrutífero entre os indecisos. Aparentemente, Bolsonaro já trouxe para o seu lado todos os eleitores que consideram os costumes um eixo na hora do voto.
A mais recente artilharia das redes sociais bolsonaristas de tentar vincular o PT ao crime organizado tem potencial para machucar a imagem de Lula, mas traz consigo um problema: os eleitores sensíveis ao tema segurança pública acham que Bolsonaro não fez nada na área.
Aferir a rejeição de um candidato é uma área da pesquisa eleitoral ainda em construção. Algumas empresas pedem que o eleitor cite apenas um nome que ele nunca votaria, outras que enumere vários nomes, e várias ainda subdividem a rejeição em “votaria”, “poderia votar”, “não votaria” e “não votaria nunca”. Por isso, os dados colhidos pelas empresas são tão díspares.
Gosto de duas perguntas feitas pela Ideia e Quaest:
Na sua opinião o presidente merece ser reeleito?
Ideia : sim 41% x 53% não
Quaest: sim 38% x 59% não
Lula merece voltar a ser presidente?
Ideia: sim 49% x 46% não
Quaest: sim 56% x 42% não