Quando fracassou a sua tentativa de intervir no Supremo Tribunal Federal em setembro do ano passado, Jair Bolsonaro entregou o controle do governo para o ministro Ciro Nogueira, a palavra final da economia para o presidente da Câmara Arthur Lira, se filou ao Partido Liberal de Valdemar da Costa Neto, criou o Auxílio brasil de R$ 400, falou bem da vacinação, distribuiu verbas para as prefeituras e se tornou um presidente quase normal. Quase, porque afinal, Bolsonaro não se enquadra nos figurinos de nenhum outro político.
A nova roupa do presidente, menos furioso e mais pragmático, deu resultado. Desde janeiro, os indicadores de aprovação do governo vêm crescendo e, junto com ele, as intenções de voto na reeleição. A distância de Lula para Bolsonaro caiu de mais de 20 pontos percentuais para menos de 10 pontos entre janeiro e abril.
Se a tática de um Bolsonaro menos radical estava dando certo por que o presidente ressuscitou o discurso de suspeição da eleição, retomando o confronto com o TSE e o Supremo? Por que depois de isolar o Supremo com a perdão presidencial ao deputado Daniel Silveira, Bolsonaro deu mais poder aos generais golpistas? O que este confronto com o Supremo diz sobre o ritmo da campanha? Para tentar entender, conversei nesta semana com três assessores diretos do presidente. Isso é que eles me contaram:
Bolsonaro tem certeza de que ministros do STF como Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Ricardo Lewandowski e Roberto Barroso (os três primeiros também ministros do TSE) farão o que for necessário para impedir a sua reeleição. Coloca-los sob suspeição, por essa avaliação, serviria como uma vacina para qualquer sentença que eles tomem no futuro contra a sua candidatura. “É uma guerra preventiva”, me disse um ministro.
A chegada do Centrão ao comando do Planalto desagradou as outras alas bolsonaristas. Algumas foram jogadas ao mar _ como os olavistas e os guedistas_ mas no caso dos militares, Bolsonaro preferiu reequilibrar as forças. No fundo, o presidente não confia no Centrão e acha que eles o descartariam numa crise. Por isso quer tanto o general Braga Neto como seu vice.
Bolsonaro acredita que venceu em 2018 porque “foi ele mesmo”, não moderou o discurso e fez do segundo turno uma disputa do bem contra o mal. É o que ele quer repetir agora. Tática do presidente é jogar campanha num vale-tudo igual à eleição de 2018.
A chave para Bolsonaro não é esconder que ele é de direita, mas sim convencer o eleitor que o adversário Lula da Silva é da extrema esquerda. Todo o staff da campanha acredita que se a disputa for entre direita e esquerda, a direita sempre vai vencer no Brasil. O fato de a campanha Lula estar cada semana mais longe do centro ajuda o argumento do presidente.
Um dos pressupostos na ciência política para projetar o resultado de uma eleição é o teorema do eleitor mediano. Em termos simplistas, a ideia é que numa eleição de maioria absoluta, como é o segundo turno no Brasil, os candidatos mais à esquerda ou mais à direita terão de conquistar os votos do eleitorado que não está em nenhuma dos dois lados. Bolsonaro nunca leu os teoremas do marques de Condorcet, Kenneth Arrow ou de Anthony Downs.
A sua campanha vai ser a de reforçar o seu núcleo de direita e impor ao eleitor do centro a noção de que Lula é tão extremo quanto ele. Será uma campanha suja, baseada em um intenso trabalho de comunicação digital e numa ameaça constante de não aceitar um resultado que não seja a vitória. Deu certo contra Fernando Haddad em 2018.