Para tentar entender o impasse das eleições, é recomendável ouvir as respostas à duas perguntas da última pesquisa Quaest:
Jair Bolsonaro merece um segundo mandato?
Sim 36%
Não 61%
Lula da Silva merece voltar ao poder?
Sim 54%
Não 43%
Vai ganhar a eleição quem resolver essas duas variáveis. As pesquisas eleitorais mostram Bolsonaro crescendo de forma sustentável desde janeiro, quase garantindo seu lugar no segundo turno. Mas a partir daí, a derrota hoje parece certa. Pela mesma Quaest, num segundo turno Lula venceria por 55% a 34%. A pesquisa mostrou que 61% dos brasileiros dizem que nunca votariam em Bolsonaro.
Bolsonaro vai gastar o que poder e o que não puder no seu pacote de bondades nos próximos meses e reforçar a ordem unida sobre os candidatos a governador e deputados nos Estados. A força da máquina federal e das campanhas nos estados dará impulso a Bolsonaro até o final da campanha…
Mas não basta.
Bolsonaro passou os últimos três anos governando apenas para os seus eleitores. Ele criou uma relação de fidelidade e engajamento inédita que permitiu ao seu governo sobreviver à pandemia de Covid, à tentativa de intervenção no STF e à volta da inflação. As pesquisas indicam que esse apoio o coloca bem à frente do terceiro candidato nas eleições de outubro, mas joga contra ele quando chega ao segundo turno. Bolsonaro governou para um terço da população. É amador achar que ele vai chegar aos 51% apenas reciclando o discurso antipetista, anticomunista e antipoliticamente correto. Isso funcionou em 2018 quando Bolsonaro era oposição e podia culpar o PT pela estagnação econômica, mas em 2022 depois de quatro anos na Presidência e a inflação é o pesadelo diário.
As declarações de Lula na semana passada não foram equivocadas apenas pelo seu conteúdo, mas pela forma displicente como o candidato citou decisões que poderá ter de encarar se for eleito, como tornar o aborto uma política de saúde (algo que o PT não fez nos 13 anos de poder) ou retirar os 8 mil militares com cargos em comissão de funções civis. Lula é o favorito, mas é um erro desconhecer que 43% da população acha que ele não merece voltar ao poder.
Um alerta sobre a vantagem lulista pode ser medida em outra pergunta da Quaest:
Nas eleições, você prefere que vença
Lula 46% (+ 2 pontos desde março)
Bolsonaro 35% (+ 5 pontos desde março)
Nem-Bolsonaro-Nem-Lula 19% (- 6 pontos desde março)
O quadro mostra que o eleitor está afunilando as suas opções entre Bolsonaro e Lula e que os eleitores do Nem-Nem vão decidir quem leva. Segundo a Quaest, enquanto 70% dos eleitores de Bolsonaro e Lula tem certeza da escolha, entre os Nem-Nem 66% admitem que podem ainda mudar seus votos.