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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O que a derrota de Tite ensina a Lula

Ao montar um governo mais preocupado em gastar, novo presidente sofre o risco do contra-ataque

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 ago 2023, 13h03 - Publicado em 17 dez 2022, 09h11

A imagem que ficará gravada na memória dos brasileiros na Copa de 2022 é a dos sete jogadores da seleção no campo de ataque faltando quatro minutos para o fim da prorrogação com 1 a 0 no placar. No contra-ataque, a Croácia chegou com cinco atacantes contra quatro defensores, fez o gol de empate e chegou à cobrança dos pênaltis com a moral vencedora. Na montagem do ministério, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva está jogando com o mesmo desequilíbrio tático do técnico Tite: tem muito ministro desesperado para gastar dinheiro e ninguém atrás para controlar o cofre.

A primeira semana pós-vitória de Lula foi só amor e carinho. A bolsa subiu 3,3% e dólar caiu 4,5%. Daí vieram os vários discurso de Lula na linha “dane-se o mercado” e “se o dólar subir, paciência!”. Com ou sem paciência, o dólar subiu 4% e a Bolsa caiu 12% em 40 dias. A variação do DI com vencimento para janeiro de 2025, o mais líquido do mercado, foi de 2 pontos percentuais no período — uma diferença de R$ 128 bilhões na rolagem da dívida pública.

Quando fala do mercado, Lula segue no palanque. “Por que as pessoas são levadas a sofrerem para garantir a tal da ‘responsabilidade fiscal’ neste país? Por que a toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos, fazer superávit e teto de gastos? Por que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gastos não discutem a questão social deste país?”, disse ele num encontro com catadores de papel na quinta-feira, 15. O problema seria fácil de resolver se fosse apenas a retórica.

No segundo turno, a campanha Lula deu fortes sinais de que teria uma frente ampla na economia, obtendo os apoios de liberais como Henrique Meirelles, Pérsio Arida e Armínio Fraga, e reforçando que, ao contrário do governo Dilma Rousseff, juntaria responsabilidade social com fiscal. Arida foi convidado para fazer parte da equipe de transição e, por semanas, o time de Lula disseminou a informação que a nova equipe econômica seria um compartilhamento entre um nome de Lula e outro de Alckmin. O tempo mostrou que a influência de Alckmin no novo governo é, até o momento, decorativa.

Na discussão da PEC da Transição, a equipe de transição indicou que R$ 135 bilhões seria o suficiente para recompor os gastos de 2022, mas o time político insistiu em R$ 175 bilhões, valor que com um acordo para ter o apoio do governo Bolsonaro acabou crescendo para pouco mais de R$ 200 bilhões. O Orçamento Secreto, definido por Lula como o maior escândalo de corrupção da história, foi aceito como moeda na aprovação da PEC.
A Lei das Estatais foi modificada na Câmara para permitir a nomeação de políticos, como Aloizio Mercadante, símbolo maior do dilmismo, nomeado por Lula como presidente do BNDES antes mesmo do anúncio do seu suposto chefe, o ministro da Indústria e Comércio. O pacote Mercadante no BNDES e políticos nas estatais fez os papeis da Petrobras sofrerem as maiores quedas desde 1989. Mercadante piorou as coisas ao vazar que está convidou ex-ministros para sua diretoria, o que foi lido como a criação de um núcleo econômico paralelo ao do novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

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Fiscalmente responsável quando prefeito de São Paulo, Haddad está tendo dificuldades para montar sua equipe pela incerteza dos convidados de que terão suporte do presidente se precisarem tomar medidas duras. Como me disse um banqueiro, “antes eu imaginava o governo Lula tendo dois polos: o do Haddad e o do Pérsio, com o mercado apoiado o Pérsio. Agora, parece que os polos vão ser Haddad e Mercadante, e só nos resta torcer pelo Haddad para evitar um desastre”.

É natural que Lula reforce o seu retorno ao governo com medidas sociais. Ele foi eleito justamente para isso e, com a pandemia de Covid, criou-se um consenso no país de que mais dinheiro público precisa ser usado na redistribuição de renda. Até Bolsonaro prometeu isso. A questão é que até agora, Lula só mostra comprometimento com a parte do discurso da responsabilidade social, a do ataque. A parte de ter uma defesa sólida, a responsabilidade fiscal, foi esquecida.

É notável que desde o fim da campanha, Lula amainou suas críticas aos militares (antecipando a escolha de um ministro da Defesa aceito pelas Forças Armadas) e iniciou uma amizade com o antigo adversário Arthur Lira. Quando interessou, portanto, o presidente eleito soube descer do palanque.

O governo Lula só começa em 1º de janeiro e a equipe econômica ainda está sendo montada. Há mais do que tempo para correção de discurso e de modulação nas políticas públicas. Mas hoje, Lula está ganhando e está com sete jogadores no campo adversário sem prestar atenção da possibilidade de contra-ataque.

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