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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O pós-bolsonarismo já começou

Com ex-presidente encrencado com a polícia, Tarcísio de Freitas ganha espaço para liderar oposição

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 Maio 2023, 13h44 - Publicado em 8 Maio 2023, 12h11

Foram só seis meses. Em outubro, Jair Bolsonaro teve 58 milhões de votos, perdeu a reeleição pela menor diferença de votos na história e saiu das urnas como o maior líder da extrema direita brasileira. Sua base política — o agronegócio, os evangélicos e os oligarcas do Centrão — tem a maioria da Câmara e do Senado. Seus candidatos venceram os governos de dezessete estados. Sem a caneta presidencial, sem a fibra para liderar a oposição, envolvido em uma dúzia de processos civis e criminais e com parte da equipe comprovadamente envolvida na tentativa de golpe, Bolsonaro definhou. Nas avenidas Faria Lima, Paulista ou Ataulfo de Paiva, a pergunta é uma só: quando Bolsonaro vai dar lugar ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas?

Com as desventuras em série envolvendo Bolsonaro, a dúvida em Brasília, em São Paulo e no Rio não é mais se ele será considerado inelegível pela Justiça, mas se além disso também será preso. Nesta semana, a sua sucessão foi debatida publicamente por dois dos seus maiores aliados.

“Ele jogou fora a possibilidade de reeleição? Sem dúvida. Outro nome de direita, como Romeu Zema, Tarcísio de Freitas ou Ratinho Jr., vai desperdiçar essa chance e errar tanto? Então, talvez Bolsonaro seja melhor cabo eleitoral do que candidato”, disse Arthur Lira a O Globo.

Em entrevista ao Valor, o presidente do partido de Bolsonaro, Valdemar da Costa Neto, foi explícito:
Valor: Flávio (o filho primogênito) é o herdeiro político do Bolsonaro?
Valdemar: Se acontecer alguma coisa com o Bolsonaro, Flávio pode ser candidato a presidente. Ele tem que ir bem lá [no Rio]. O Eduardo Bolsonaro é bom também. Um é diferente do outro. O Eduardo é o cara do batente, o Flávio é mais cabeça. E tem o Tarcísio em São Paulo, que é um fenômeno.
Valor: Mas ele não é do PL…
Valdemar: Não é, mas amanhã pode ser.

Governador de São Paulo sem nunca ter morado no estado, Tarcísio tem uma avenida aberta à sua frente. Um dia se comporta como um hidrófobo e anuncia a mudança do nome da estação de metrô Paulo Freire. Noutro, age com sensatez. Esteve na comitiva de governadores que visitou o Supremo Tribunal Federal depois da invasão golpista de 8 de janeiro, participou com Lula da visita aos desabrigados do litoral paulista e anunciou apoio à proposta de reforma tributária.

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Há erros como a falta de providências contra a Secretaria que divulgou informação falsa sobre cancelamento de investimentos ucranianos no Brasil e a demora nos resultados de segurança na Cracolância, onde foram registrados na polícia 9.491 assaltos em quatro meses. Há acertos como ter como articulador político um expert como Gilberto Kassab. Há falhas a serem corrigidas, como a falta de um economista de primeira linha no secretariado.

Ao mesmo tempo, o governador mostra calculada consideração pública com Bolsonaro. Perguntado por Andréia Sadi, da GloboNews, sobre um possível candidato a presidente, ele foi cauteloso: “Eu não vou disputar nunca com uma pessoa que me abriu todas as portas”.

Como dizia Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), a política é a única profissão que você pode ressuscitar sem precisar morrer antes. Preso e com o partido estraçalhado em 2020, Lula da Silva parecia um zumbi antes de ressuscitar a partir da derrocada do próprio Bolsonaro. Nos EUA, Donald Trump se viu enredado numa sucessão de processos muito similar ao de Bolsonaro, mas hoje é o favorito para ser o candidato republicano.

Políticos do Centrão e os operadores do mercado financeiro podem estar se apressando ao antecipar a morte política de Bolsonaro. Na feira Agrishow, em Ribeirão Preto, na terça-feira, Bolsonaro circulou ao lado de Tarcísio aos gritos de “mito”.

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A força popular do ex-presidente é inegável, mas há sinais de esgotamento. Levantamento de redes sociais da Quaest mostrou que a ação da PF de quarta-feira sobre a carteira de vacinação de Bolsonaro teve 30 milhões de interações nas primeiras 24 horas — o maior volume de discussão de qualquer assunto político no ano. Depois do susto, os bolsonaristas até conseguiram se unir em torno da vitimização do ex-presidente, mas a tese da “perseguição” ficou restrita à bolha. Segundo a Quaest, 81% de todas as postagens sobre o tema foram negativas a Bolsonaro. A derrota de Bolsonaro ocorre depois que o filho estrategista, Carlos, abandonou as redes do pai.

Como as redes sociais formam um ecossistema majoritariamente bolsonarista, é uma derrota importante. No seu perfil no Twitter, o cientista político Christian Lynch fez uma provocação:

“Não é que a hegemonia conservadora tenha passado. É o contrário. A ocupação de espaços institucionais pela direita é que tem permitido o retorno a uma rotina política. Meu ponto é que essa direita não será mais cavalgada pelos radicais, e muito menos pela quadrilha Bolsonaro”.

Por este raciocínio, a direita conservadora representada por Tarcísio de Freitas tentará um equilíbrio difícil: ficar perto do ex-presidente o suficiente para obter sua bênção e herdar sua base popular, mas ao mesmo tempo tomar distância do golpismo. Não é simples, mas Tarcísio já tem o apoio majoritário da elite antilulista para assumir a liderança da direita.

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