A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, é a pessoa mais influente do governo Lula. É ela quem personaliza o tom de campanha no discurso presidencial, organiza o partido para ser a linha frente de defesa do governo e marca as posições do PT para, muitas vezes, confundi-la na opinião pública como se fossem do próprio Lula. Numa demonstração de força e teimosia, Hoffmann derrotou a primeira-dama, Janja da Silva, na disputa pela presidência de Itaipu.
Em entrevista à Folha, Hoffmann anunciou a possibilidade de uma reforma ministerial atingindo os três ministérios do União Brasil, Comunicações, Turismo e Desenvolvimento Regional. “Temos que fazer um freio de arrumação, porque, mesmo sendo contemplado como foi, é um partido que não está fazendo entrega (votos no Congresso). (…) Tem que chamar e conversar porque, se não estiver fazendo entrega, não tem por que permanecer onde está”, disse.
A entrada do UB no governo foi acidentada. O presidente da Câmara, Arthur Lira, que é do PP, queria o deputado Elmar Nascimento na Integração Regional. Bolsonarista ruidoso, Elmar foi vetado pela própria Gleisi, num movimento que fatalmente cobrará um retorno de Arthur Lira. Apressado com a posse, o governo negociou o cargo com o senador Davi Alcolumbre, que mesmo sendo do UB indicou para o ministério seu conterrâneo Waldez Góez, que era do PDT. A eleição no Senado mostrou, entretanto, que Alcolumbre é menos poderoso do que tanto ele quanto o PT imaginavam.
Hoffmann indicou dois ministros que despacham diariamente com Lula: o secretario de comunicação, Paulo Pimenta, e secretário geral, Márcio Macêdo. Sem contar a indicação do deputado Ênio Verri para Itaipu por sobre a vontade de Janja.
Deve-se contar na conta de Hoffmann o fato de que, passados 40 dias, o ministro de Minas Energia, Alexandre Silveira, seja o único ocupante da Esplanada sem um secretário executivo. Silveira pretendia indicar Bruno Eustáquio para o cargo. No governo Bolsonaro, Eustáquio foi secretário-executivo adjunto dos Ministérios de Minas e Energia e da Infraestrutura. “Não tem justificativa. Troca. Bota outro. Se nós ganhamos, nós temos uma posição política clara contra o bolsonarismo, disputando nas urnas com ele e ganhamos. É um filtro ideológico, sim”, disse a deputada à Folha. Alexandre Silveira não é um alvo pequeno. Ele é indicação pessoal do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
Enquanto outros ministros apenas deram declarações justificando as críticas de Lula aos juros altos, Gleisi Hoffmann jogou a suspeita de que o BC está boicotando intencionalmente o governo. “O país precisa de crescimento, de emprego. Não pode ter política monetária que jogue contra isso. Não foi essa política aprovada nas urnas. O BC não tem direito de intervir para que a economia do Brasil vá mal”, declarou.
As nomeações e vetos refletem um poder real, muito maior do que Hoffmann ocupou a Casa Civil no governo Dilma Rousseff. Incapaz de achar algum erro de Lula mesmo nas conversas privadas, ela exprime uma geração petista que acredita que Lula 3 é a oportunidade para fazer o que Lula 1 e Lula 2 não tentaram de verdade, enfrentar setores como o mercado financeiro, a mídia e o agronegócio. Se existe um rosto para este governo Lula 3, mais bélico e intransigente, ele é de Gleisi Hoffmann.