O papel de Alckmin num governo Lula
Citado 11 vezes na entrevista ao Jornal Nacional, candidato a vice terá influencia na escolha da equipe econômica
Geraldo Alckmin foi citado onze vezes por Lula da Silva nos 40 minutos de entrevista de quinta-feira (26) no Jornal Nacional. Nas palavras de Lula, o candidato a vice irá “governar junto”, “tem a experiência para fazer mais”, é um “sujeito esperto” e deposita nele “100% de confiança”. Alckmin virou o fiador de um eventual governo Lula como em 2018 Paulo Guedes foi o avalista de Jair Bolsonaro em 2018.
Foi uma decisão estratégica. Em 2002, quando as pesquisas qualitativas mostravam que parte do eleitorado duvidava da capacidade administrativa de Lula, o programa de TV do PT mostrou uma dúzia de professores e prefeitos fingindo discutir o programa de governo _ como se para dizer que uma vez eleito, ele teria por trás de si uma equipe experiente. Na mesma campanha, Lula usou o apoio de empresários como Eugenio Staub e ex-presidentes como José Sarney e Itamar Franco para assegurar ao eleitor que ele não seria um incendiário.
Vinte anos depois, Lula volta para o mesmo lugar. Mesmo repetindo que seus anos de presidência são a garantia da responsabilidade fiscal em um novo governo, Lula sabe que isso não basta. Os governos Dilma se tornaram um tabu nas conversas com o empresariado. Lula habilmente criticou a gestão da sucessora na entrevista ao JN, citando especificamente o congelamento dos preços dos combustíveis e a desoneração da folha de pagamento, mas, de novo, isso não é suficiente.
Lula não irá indicar sua equipe econômica antes de uma eventual vitória, mas Alckmin terá influência na escolha. Nas próximas semanas, a campanha deve ampliar a visibilidade de Alckmin para deixar mais evidente o protagonismo do ex-tucano.
A equipe econômica que assessora Lula desenha um quadro fiscal tenebroso para 2023, com um rombo no Teto de Gastos que pode chegar a R$500 milhões com a prorrogação do Auxílio Fiscal, reajuste no salários dos servidores e pagamento de precatórios atrasados. Convencer o Congresso da necessidade de uma licença para gastar mais será fácil. Fazer isso sem que o mercado comece a apostar numa alta de juros e câmbio no começo do governo é improvável a não ser que Lula ofereça algum sinal. O primeiro, de que o track-record de Lula é positivo, não deu certo. O segundo, de que Alckmin terá um papel preponderante no governo, está sendo jogado agora.