Lula da Silva fez da sua campanha um show solo. Ele tinha a última palavra e, embora ouvisse muito, terminava fazendo que queria. Agora, repete o lulocentrismo na transição para o seu terceiro governo.
Na entrevista coletiva da sexta-feira, dia 2, Lula afirmou: “Eu sei o que é bom e o que é ruim. Eu sei o que é bom para o povo, eu sei o que é bom para o mercado”.
“Meu ministro da Economia será essa cara do sucesso do meu primeiro mandato. Obviamente, o ministério tem autonomia, o ministério tem um monte de coisas, mas quem ganhou as eleições fui eu. Quero ter inserção nas decisões de economia neste país.”
Lula passou cinco dias em Brasília e é notável como a sua presença mudou o clima da transição de governo. Cresceu a possibilidade de aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) retirando o Bolsa Família do orçamento por dois anos, houve um acordo de convivência com Arthur Lira e os partidos MDB, PSD e União Brasil estarão na base parlamentar do novo governo. São avanços notáveis, mas que só aconteceram agora porque Lula não havia dado antes a nenhum assessor o mandato para fechar acordos.
Lula joga no seu tempo. Ele conseguiu que o Tribunal Superior Eleitoral antecipasse a sua diplomação como presidente para o dia 12 e quer adiar para depois disso o anúncio da maior parte dos ministros, incluindo os dos novos apoiadores MDB, PSD e União. O adiamento dá a impressão de que Lula quer adiar as nomeações também para não ceder parte do seu poder. Desde antes da vitória, o presidente decidiu que Marina Silva será a responsável pelo ambiente, seja o Ministério seja a futura Autoridade de Mudanças Climáticas, mas o presidente eleito decidiu não fazer o anúncio durante a Conferência de Mudanças Climáticas da ONU, no Egito, em novembro. Por quê? Porque não queria dividir o palco.
É fato que Fernando Haddad, Rui Costa, Flavio Dino, José Múcio, Simone Tebet, Marina Silva já tem autonomia para montar suas futuras equipes, mas obedecendo o tempo de Lula. “Já tenho 80% do ministério na cabeça, mas não quero construir para mim, quero construir as forças políticas que me ajudaram a ganhar as eleições. Na medida em que eles tiveram coragem de ir para a rua comigo, de enfrentar a adversidade que nós enfrentamos, as provocações, porque foi uma eleição muito complicada”, disse o presidente eleito na entrevista coletiva. “Estou em um processo de conversa com todas as forças políticas. Já conversei com forças políticas que não me apoiaram durante a campanha, mas que são partidos que têm importância dentro do Congresso. Quando a gente ganha uma eleição, a gente governa com quem ganhou.” Por enquanto, Lula governa sozinho.