O feel bad factor
Índice de Bolsonaro sobe, acompanhando melhora na avaliação de governo, mas crescimento depende da economia
Embora com diferenças nos ritmos, as pesquisas têm mostrado um quadro similar: Lula chegou ao teto histórico do PT desde 2006 oscilando acima de 40% das intenções de voto; Bolsonaro vem crescendo acima dos 30%, ganhando todos os votos que antes eram de Sergio Moro. No segundo turno, a diferença entre os dois também se reduziu — caindo a 5 pontos percentuais no PoderData, 10 pp no Ipespe e 11 no Ideia. Em todas as pesquisas, a avaliação do governo Bolsonaro vem despiorando, ou seja, a reprovação está caindo.
Olhando apenas a evolução desses números e a capacidade do campo lulista de tropeçar nas próprias pernas nas últimas semanas, é natural prever que Bolsonaro seguirá reduzindo a vantagem e embolando as apostas.
Bolsonaro, no entanto, também tem um teto. E, ao contrário de Lula, esse teto está diretamente vinculado à frustração do brasileiro com as atuais condições de vida. Sem uma alteração real na inflação e na perspectiva de prosperidade, o crescimento de Bolsonaro tem limite e ele será alcançado em alguns meses.
Pontos fundamentais para entender o teto de Bolsonaro:
56% acham que Bolsonaro não merece ser reeleito (Ideia)
61% não votariam em Bolsonaro de jeito algum (Ipespe)
62% acham que o Brasil está indo para o rumo errado (Ipespe)
74% acham que os preços vão seguir aumentando nos próximos meses (Quaest)
46% acham que a economia é o maior problema do país (Quaest)
61% acham que o Brasil está no rumo errado (Ideia)
70% acham que a prioridade do próximo presidente deveria ser criar empregos (Ideia)
Bolsonaro pode engajar milhões de fanáticos contra o STF, usar a pauta do aborto para mobilizar os evangélicos e investir no antipetismo entre os mais ricos, mas tudo isso ainda tem efeito limitado. Ele precisa de uma melhora no humor da sociedade que a faça acreditar que seria bom manter o seu governo.
Na economia, existe uma expressão em inglês para definir o bom humor da sociedade, o “feel good factor”, o otimismo que faz o consumidor gastar e o empresário investir, confiantes que dias melhores virão. No Brasil de 2022, o que se vê é um “feel bad factor”, um pessimismo generalizado sobre as perspectivas com inflação, geração de emprego e crescimento econômico. Sem alterar esse humor da sociedade, Lula segue favorito e Bolsonaro vai depender dos erros do PT para ganhar.