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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O escândalo das Arábias acalma Lula

Com principal adversário tendo de explicar o inexplicável, governo toma fôlego para tomar decisões sob menos pressão

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 mar 2023, 10h54 - Publicado em 13 mar 2023, 10h53

O escândalo das jóias de R $16,5 milhões dadas pelo reino da Arábia Saudita ao casal Bolsonaro foi um presente ao governo Lula da Silva. Desde que o caso eclodiu, o clima no Palácio do Planalto desanuviou. Lula está mais seguro, dando menos broncas e ouvindo mais. É como se ao ver o adversário nas cordas em torno de um escândalo sem explicação, Lula ganhasse a tranquilidade necessária para governar.

Na sexta-feira, dia 10, em reunião ministerial, Lula deu o tom do seu estado de espírito. “Essa reunião é quase que o recomeço de verdade do nosso mandato. É como se tivéssemos passado por uma preparação. Cada um montou o seu ministério, teve dificuldade para alocar, para indicar pessoas. Este é o momento em que começamos de verdade o campeonato.”

Furo dos repórteres Adriana Fernandes e André Borges, do jornal O Estado de S. Paulo, o episódio é puro suco do bolsonarismo de improvisações, carteiradas, militares subservientes e uma suspeita de corrupção. Em outubro de 2021, então ministro das Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, entrou no país com um relógio de R$ 400 mil para Bolsonaro e seu assessor foi pego com colar e brincos de diamantes avaliados em R$ 16,5 milhões para Michelle Bolsonaro. Até o penúltimo dia do mandato de Bolsonaro, o governo pressionou a Receita para devolver as jóias, mas não conseguiu provar que elas de fato seriam posteriormente incorporadas ao patrimônio público e não usadas como presente pessoal.

Depois da primeira reportagem, o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, passou a coordenar o vazamento de informações e vídeos comprovando o esforço de militares palacianos em reaver as joias e a retidão dos servidores da Receita que resistiram ao assédio.

As pesquisas programadas para o final do mês podem comprovar o tamanho do estrago na imagem de Bolsonaro, mas dados preliminares levantados pela Quaest não justificam o otimismo de Lula. Segundo levamento no Facebook, Instagram, Youtube e Twitter entre os dias 2 e 8 de março, as joias foram de longe o assunto mais comentado e compartilhado por eleitores próximos do lulismo. Foram mais de 43 milhões de menções ao tema. Mas entre os perfis considerados bolsonaristas, o tema foi ignorado, sendo substituído por críticas ao governo Lula sobre o aumento no preços dos combustíveis. Nas redes bolsonaristas, foram menos de 9 milhões de menções. Nos perfis neutros, 24 milhões de posts sobre o escândalo.

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“Os bolsonaristas resolveram ignorar o tema por completo, para não dar maior repercussão, com uma família que evita um assunto incômodo”, disse Felipe Nunes, da Quaest. Ele duvida que o caso mude a correlação de força entre lulistas e bolsonaristas.

A confiança dos Bolsonaros de que o caso não os afetará pode ser notada na reação do casal. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro foi irônica: “tenho tudo isso e não estava sabendo?”. Já Bolsonaro, mentiu: “É presente que eu não pedi, nem recebi”. Ele recebeu um relógio de R$ 400 mil do reino saudita que não foi devolvido ao patrimônio público.

Preocupados, na quarta-feira o deputado bolsonarista Nikolas Ferreira fez uma farsa transfóbica em discurso na Câmara dos Deputados para atrair o ódio da esquerda e proteger os Bolsonaros. Para variar, a esquerda caiu na armadilha.

O episódio ainda tem perguntas sem resposta. Nem o Itamaraty, nem o governo saudita confirmaram se jóias foram realmente um presente oficial para Bolsonaro, como o ex-ministro Bento Albuquerque sustenta. Se foram haveria algum registro oficial. Se um dos dois confirmasse o presente, o crime de Bolsonaro e seu ex-ministro seria de descaminho de uma joia cara. Se negassem a existência do presente, ganha força a possibilidade de ser uma propina.

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