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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O efeito mosquito

Como quase 1 milhão de casos de dengue podem afetar a popularidade de Lula

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 09h59 - Publicado em 27 fev 2024, 13h02
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  • Não serão os desdobramentos do conflito diplomático com o governo de Israel ou o rescaldo manifestação bolsonarista de domingo. O fato que pode afetar o rumo do governo Lula nas próximas semanas é o descontrole da epidemia de dengue. Até esta terça-feira, 27, foram registrados 920 mil casos. Com as chuvas de março, epidemiologistas esperam que serão mais 3 milhões de casos antes da Páscoa. Os governos do Acre, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina decretaram emergência. Só em Brasília são 98 mil casos confirmados.

    Eleito, entre outros motivos, pela péssima gestão de Bolsonaro na saúde, o governo Lula tem a obrigação de ser mais eficiente. O começo não foi bom. Nesses primeiros dois meses, o número de casos aumentou 200% sobre o mesmo período de 2023.

    Sem uma clássica campanha massiva de prevenção, o Ministério da Saúde ficou a reboque do aumento no número de casos, agravado neste ano pelo El Niño e suas temperaturas mais altas com mais chuvas. O ciclo de verão úmido é favorável para a reprodução do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da dengue, chikungunya e zika.

    Desde novembro, o Ministério da Saúde sabia que viria uma tormenta. Houve uma dúzia de reuniões setoriais, não faltou dinheiro e o ministério comprou todo o estoque de 5,2 milhões de doses da vacina contra a dengue do laboratório japonês Qdenga. O Brasil é o primeiro país a oferecer a vacina gratuita contra dengue. Como não existem mais doses disponíveis, a vacinação está limitada às crianças de 10 a 14 anos.

    Mesmo com dinheiro, vários governos estaduais foram lenientes. Como mostrou o jornal O Globo, dos nove estados com maior incidência da doença, seis usaram menos de 70% dos recursos para prevenção. O do Distrito Federal, por exemplo, só usou 23% dos recursos disponíveis. Só que num país presidencialista e personalista como o Brasil, a conta sempre cai no colo do presidente.

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    Ao contrário de um tema como as críticas de Lula a Israel, que no geral mobiliza eleitores que já são antipetistas, a saúde é um fator que preocupa os eleitores de Lula. Uma percepção de que o governo Lula está sendo leniente tem um potencial de estrago na aprovação do governo.

    A ministra da Saúde, Nísia Andrade, fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV antes do Carnaval, mas isso não mudou a batalha de comunicação. Nas redes sociais, os bolsonaristas cravaram a versão de que “enquanto o capitão deu vacina para quem quis se vacinar de covid, Lula não oferece vacina suficiente para dengue”. O ex-ministro da Saúde de Bolsonaro Marcelo Queiroga explodiu nas redes sociais ao postar que o governo Lula “bate cabeça, em uma mistura de negligência e irresponsabilidade, deixando milhões de brasileiros sem vacina”. Essa é a versão que está vencendo hoje.

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