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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O Brasil vive um impasse mexicano

Atos de 7 de setembro dividem Bolsonaro e Lira de um lado; STF e Senado do outro

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 set 2021, 15h23
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  • Se fosse um filme, a crise política brasileira seria um western de Quentin Tarantino. É um impasse mexicano, o confronto armado no qual quatro homens apontam as suas armas uns para os outros.

    Jair Bolsonaro mira em Alexandre de Moraes e Rodrigo Pacheco, mas não pode confiar cegamente em Arthur Lira. Moraes mira em Bolsonaro, mas também em Lira, cujos processos no STF podem ressuscitar em breve. Lira, por sua vez, só ganha se Bolsonaro sair ferido do tiroteio e precisar da sua ajuda. Rodrigo Pacheco só viabiliza sua candidatura a presidente se Bolsonaro estiver morto. Lula assiste o tiroteio como se não fizesse parte da cena. A única certeza é que, como nos filmes de Tarantino, haverá sangue.

    Nos pronunciamentos desta quarta-feira, Luiz Fux e Arthur Lira delimitaram suas áreas de atuação. Fux falou em nome da corporação e ameaçou Bolsonaro a desobedecer a alguma futura ordem do STF. “Essa atitude além de representar um atentado à democracia configura crime de responsabilidade”, afirmou.

    Lira, por sua vez, falou platitudes. Chamou a uma trégua impossível, fingiu que de um lado não estava um golpista e só foi sincero quando, achando que a gravação havia se encerrado, disse “teve um errinho básico, né?”. Teve, presidente Arthur Lira, e o errinho básico é achar que dá para moderar Bolsonaro.

    Resumo dos capítulos anteriores: Jair Bolsonaro não tem, neste momento, força para um golpe militar, mas não vai desistir. O Sete de Setembro foi só um ensaio para mostrar que ele vai escalar por qualquer meio, legal ou ilegal, para se manter no poder a partir de janeiro de 2023. A oposição é desorganizada demais para afastar Bolsonaro do poder, mas sabe quais são os pontos fracos do presidente: ele só tem entre um quarto e um terço do apoio do eleitorado e se preocupa mais com a prisão de seus youtubers de estimação que com problemas reais, a inflação, a falta de rumo para a economia, o risco de racionamento de energia, a Covid e a roubalheira no Ministério da Saúde.

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    O presidente da Câmara, Arthur Lira, é poderoso a ponto de aprovar uma reforma tributária tosca, mas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, vai engavetar o projeto. O presidente pode soltar as MPs que quiser, e o Senado pode arquivá-las sem olhar, com aval do Supremo. Muito pouco do que o Senado faça a partir de agora terá aval da Câmara e vice-versa.

    O Congresso pode aprovar o Orçamento de 2022 que quiser, mas o Supremo não vai autorizar uma saída extra-legal para descumprir a Lei do Teto de Gastos, o que significa que a União terá de pagar os precatórios sem uma ajuda amiga da Justiça. Vai sobrar menos dinheiro para o novo Bolsa Família (se é que haverá algum projeto novo) e para as emendas parlamentares.

    O país que já anda devagar pode parar de vez. Parar de decidir, porque o dólar vai seguir instável, os investimentos serão adiados, a inflação vai subir ao menos até abril e o risco de racionando segue no horizonte.

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