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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O bolsonarismo se reorganiza nas redes

Durante dias, apoiadores se organizaram nas redes sociais para retomar o protagonismo que haviam perdido em março

Por Thomas Traumann
Atualizado em 20 abr 2020, 17h47 - Publicado em 20 abr 2020, 17h35

A aparição do presidente Jair Bolsonaro no comício a favor da ditadura no domingo, em frente ao Quartel-General do Exército, foi o resultado de uma operação profissional. Durante dias, bolsonaristas se organizaram nas redes sociais para retomar o protagonismo que haviam perdido em março, com o início da crise do coronavírus.

Pesquisa da DAPP-FGV divulgada no início da noite de quinta-feira (16/4) mostrou que, em apenas uma semana, a base bolsonarista cresceu de 12% para 16% de todas as postagens do Twitter. Esse crescimento serviu para um ataque intenso para respaldar a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Com Mandetta fora do caminho, os bolsonaristas mudaram o alvo. Na sexta-feira, 17, a consultoria Bites contabilizou 1,6 milhões de tuítes contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Para se ter ideia da avalanche, esse volume em um único dia representa dois terços de todas as menções a Maia em um ano inteiro! No Instagram, rede ausente do ringue político, o #ForaMaia teve inéditos 77 mil posts. No sábado, os ataques incluíram o presidente do Senado, com 364 mil posts #ForaAlcolombre. No domingo, o vídeo do discurso do presidente no ato pró-ditadura teve 6,3 milhões de visualizações, de acordo com a Bites. Foram 558 mil tuítes pró-Bolsonaro e apenas 40 mil contrários.

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Um dos vídeos mais compartilhados nos grupos de WhatsApp bolsonaristas exibia a fato do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, pedindo orações para o presidente, que estaria sendo vítima de dores pelo corpo resultado de “setas malignas do inferno”. O vídeo é falso. A voz não é de Lorenzoni. Outro post pedia a participação nos atos pela reabertura do comércio e acusava o governador João Doria de estar usando as interdições de saúde para prejudicar o presidente. Um outro, genérico, acusa o Congresso de tramar a derrubada do presidente em conluio com o STF e a TV Globo

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No sábado e domingo, houve carreatas nas principais capitais pelo fim da quarentena, intervenções militares no Congresso e no STF e mais poder a Bolsonaro.

O pesquisador de redes sociais Pablo Ortellado, da USP, observou um retorno do uso de correntes de Whatsapp. Ele escreveu: a “militância bolsonarista ressuscitou estratégia da campanha eleitoral: jogar pessoas com perfil parecido– sem autorização delas– em grupos de WhatsApp para receber propaganda. Metade das pessoas sai dos grupos, mas outra metade fica e vira alvo de propaganda periódica”.

É visível que a operação dos bolsonaristas envolve robôs e a compra de listas de telefones por segmentos. É ingênuo, no entanto, acreditar que o movimento sejam apenas robôs. Há pessoas de verdade que apoiam Bolsonaro e a volta do regime militar e que precisavam de uma ordem unida para se organizar. Agora essa ordem voltou.

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Montar uma operação dessas custa dinheiro. Em março, empresários do comércio varejista de São Paulo e Curitiba admitiram estar financiando a disseminação de conteúdo contra o presidente da Câmara para impedir a votação do projeto de reforma tributária, que aumentava os impostos sobre serviços. É provável que houve uma operação similar agora em abril, mas muito mais dispendiosa e profissional.

A coordenação entre ação de redes e atos públicos mostra que o bolsonarismo não vai parar. O presidente e seus apoiadores vão entrar em guerra aberta contra todos aqueles que considerarem seus adversários.

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