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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O barco de Lula ganha vento a favor

Números da economia melhoram e Haddad já pode pensar em 2024

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 Maio 2024, 23h58 - Publicado em 12 jun 2023, 09h42

Começou a soprar vento a favor da economia. A supersafra de alimentos baixou a inflação, o crescimento do PIB embora moderado vai superar os melhores cenários do início do ano, o mercado financeiro está atropelando o Banco Central para antecipar o início do ciclo de queda da taxa Selic, o dólar está comportado abaixo de R$ 5, o preço do petróleo ficou estável mesmo com a diminuição da produção árabe, o risco-país caiu e a Bolsa de Valores bateu recorde. É o melhor momento do Brasil em meses. O ministro Haddad já ganhou 2023. Agora é pensar em como manter a economia girando em 2024.

A divulgação do IPCA de 0,23% em maio, bem abaixo das expectativas, foi o ponto de inflexão. A inflação acumulada em doze meses está em 3,94%, o menor nível desde outubro de 2020. Com a safra chegando nos supermercados, a expectativa é de deflação no mês que vem. A expectativa inicial de inflação de 6% até dezembro está hoje mais para 5,5% com viés de queda. Dois fatores externos ajudam: o dólar caiu a 4,87%, a menor cotação do ano; o barril de petróleo, mesmo com os anunciados cortes de produção, segue estável a menos de US$ 75.

A queda na inflação privatizou a pressão sobre o Banco Central. Se até março era possível ao BC falar em manter os juros de 13,75% até o final do ano, a questão agora é se o corte se inicia em agosto ou setembro, se começa com 0,25 ponto percentual ou 0,5 pp. Enquanto enfrentava os discursos de Lula, Roberto Campos Neto podia se encastelar nos tecnicismos. Agora, se não cortar, ficará atrás do mercado na curva.

Nesta semana, as taxas de médio e de longo prazos baixaram aos menores níveis desde dezembro de 2021, em um movimento que também afetou os juros de vencimentos mais curtos. Em 29 de março, a taxa DI para janeiro de 2029 estava em 13,62%. Nesta semana, era de 10,93%. Antes do feriado, casas conhecidas pela cautela trabalham com uma Selic de 12% na virada do ano, chegando a 9% em 2024. Essa previsão pode ser o piso nas próximas semanas.

O rali fez a B3 fechar a sexta-feira a 117 mil pontos, a sétima semana seguida de alta. O risco-país medido pelo CDS, que bateu os 250 pontos na posse de Lula, caiu abaixo dos 200 pontos pela primeira vez no ano.

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É fácil dizer que Lula “tem sorte” e que parte fundamental dessa virada tem efeitos exógenos: o crescimento moderado da China não aumentou a importação de alimentos e por isso a produção brasileira ficou no país, a Rússia exporta todo o óleo que consegue e por isso estabiliza os preços do petróleo, o governo americano quer um dólar fraco para ajudar nas exportações e a queda nas ações desde o ano passado fez a bolsa brasileira ficar barata para os padrões dos investidores internacionais. O PIB do agro deve crescer em torno de 13% neste ano, o que pode garantir um PIB geral acima de 2%. Até o primeiro trimestre, poucos economistas previam que o crescimento deste ano chegasse a 1%.

Dito isso, é difícil não dar aos méritos à equipe do Ministério da Fazenda. Depois de ser acossado pela esquerda do PT em janeiro e fevereiro, o ministro Fernando Haddad entregou um projeto de marco fiscal com promessa de superávit primário, recuperou o diálogo do governo com o mercado e conseguiu manter a agenda econômica de fora da briga do Planalto com a Câmara. Haddad é o único petista de quem o presidente Arthur Lira fala bem. Um sinal da força de Haddad é o silêncio da presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

Haddad tem uma política econômica gradualista, que às vezes faz controle de danos. O projeto de subsídio para carros projetado pela equipe do vice-presidente Geraldo Alckmin previa uma linha de R$ 8 bilhões por um ano. O pacote pró-montadoras virou um projeto de R bilhões por até quatro meses, com a maior parte para a substituição de ônibus e caminhões velhos. A discussão sobre mudança nas metas de inflação, que em janeiro Lula dizia que poderia ocorrer ‘a qualquer momento’, será sepultada na reunião do Conselho Monetário Nacional do fim do mês.

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Sua agenda, no entanto, continua sob ameaça enquanto não houver um acordo de convivência entre Lula e Lira. O Marco Fiscal está baseado em aumento de receita e para chegar aos resultados prometidos será preciso uma ambiciosa revisão de tributos que depende de aprovação do Congresso, com as taxações de investimentos em off-shore, fundos exclusivos, juros sobre capital próprio, ganhos com lucros e dividendos e as distorções de contratação de pessoas jurídicas. Hoje nada disso parece ter aprovação provável.

Sem a pressão de uma emergência econômica, o time de Haddad ganha fôlego para debates de médio prazo, como a reforma tributária, a revisão nos investimentos em energia, a desvinculação dos gastos de saúde e educação da Constituição, o início da indústria verde e o oferecimento de alguma alternativa de prosperidade à Amazônia que não seja avançar sobre a mata. Pontos que o governo Lula ainda não deu o primeiro passo.

Lula da Silva governou cinco meses acuado. Sofreu uma tentativa de golpe no 8 de Janeiro, atravessou semanas desconfiando do legalismo do comandante do Exército, brigou com o presidente do Banco Central, temeu por uma recessão no fim do ano, engavetou as ilusões de um governo de frente ampla, centralizou as decisões do governo em meia dúzia de ministros, entrou de forma atabalhoada na discussão sobre a guerra da Ucrânia e desprezou a articulação política até ser acuado pela Câmara dos Deputados. Agora, com a economia melhor, Lula tem a chance de governar sem pressão. É uma chance rara.

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