Em sua entrevista a VEJA, Paulo Guedes retratou um cenário dramático para o Brasil. Ele afirmou que “o entorno” do presidente boicota suas ideias, que as privatizações não saem por resistências dos ministros e que o presidente da Câmara, o governador de São Paulo e ministros do Supremo conspiraram por um golpe de Estado contra o presidente Jair Bolsonaro.
Se tudo o que Guedes disse aos repórteres Policarpo Junior e Thiago Bronzatto fosse verdade, haveria uma crise política do tamanho da que tirou Dilma Rousseff do poder, em 2016. A ideia de que a estabilidade política do país esteve por um fio e que o ministro da Economia é impotente para enfrentar “o entorno” do presidente teria feito o mercado desabar. Felizmente, ninguém o levou a sério.
Parte dessa insensibilidade com as palavras de Guedes é culpa do próprio ministro. Ele desgastou a sua palavra de tal forma nesses dois anos, prometendo R$ 1 trilhão em privatizações e reformas “para a semana que vem”, que os operadores de mercado e os políticos passaram a avaliar suas entrevistas com um certo desconto. Isso é bom quando Guedes exagera, como na história da tentativa de golpe, mas é ruim quando se precisa de um ministro que aponte o futuro do país.
Ministro da economia são otimistas por natureza. Por maior que seja o temporal se formando no céu, sempre haverá um ministro prometendo dias de sol e incentivando investidores e consumidores a se preparem para um grande piquenique. Delfim Netto assumiu o comando da economia em 1979 sabendo que o País estava quebrado e iria para a bancarrota com a alta dos juros americanos e mesmo assim assumiu afirmando “este país não pode se permitir um crescimento menor. Esse país só enfrenta a crise crescendo mais”. Como Delfim, todos seus sucessões exageram, mentiram ou apenas torceram a verdade para convencer o distinto público que, como na marchinha de Carnaval, “esse ano não vai ser igual aquele que passou”.
Na sexta-feira, Guedes fez um movimento inteligente. Prometeu que não iria mais prometer nada, um presente de Natal para todos que precisam ter no Ministério da Economia uma personalista realista e não um animador de auditório. 2021 será um ano difícil. O Auxílio Emergencial vai jogar milhões de brasileiros a viverem por sua própria conta, a economia sentirá o baque da falta de consumo, a incompetência do governo em promover vacinação em massa vau atrasar a retomada e os embates de Jair Bolsonaro com o novo governo Biden irão piorar a imagem no Exterior do País e das exportadoras brasileiras. Ninguém precisa de um ministro fora da realidade. Guedes precisa recuperar sua credibilidade para ajudar o país a atravessar 2021.