A insistência de Jair Bolsonaro em usar as comemorações do Sete de Setembro para ensaiar uma intervenção militar pode dar o empurrão necessário a um voto estratégico a favor de Lula da Silva ainda no primeiro turno. O golpismo do presidente hoje é o maior cabo eleitoral de Lula.
No sábado (30/07), na convenção do partido Republicanos, Bolsonaro dobrou a aposta no erro e prometeu transformar o Sete de Setembro numa mistura de militantes e militares: “Às 16 horas do dia 7 de setembro, pela primeira vez, as nossas Forças Armadas e as nossas irmãs, forças auxiliares, estarão desfilando na praia de Copacabana, ao lado do nosso povo”, anunciou.
Não existe a menor possibilidade de sair algo bom de um desfile de soldados armados e bolsonaristas pedindo intervenção militar no Supremo Tribunal Federal. Provavelmente a intenção é que nada de bom sai mesmo.
Desde a vergonhosa reunião do presidente com os embaixadores atacando a Justiça Eleitoral em julho, parte da elite que rejeita Lula e o PT começou a enxergar que é preciso impor limites a Bolsonaro. Este desconforto se traduziu numa cautelosa Carta aos Brasileiros, que começou como um movimento de juristas e até este domingo já reunia mais de 600 mil assinaturas defendendo a democracia e o respeito ao resultado das eleições.
As pesquisas de julho mostram que Bolsonaro tem dificuldades para atrair eleitores fora do circuito militares-agro-evangélico. Há dezenas de casos de políticos do Centrão que escondem o nome do presidente de suas campanhas, a começar por Arthur Lira, que faz uma campanha solo em Alagoas.
Mas agora o golpismo de impõe um risco maior, o de que a rejeição ao presidente faça com que eleitores que não pretendiam votar em Lula antecipem para o primeiro turno uma decisão que seria só tomada no segundo turno. Esta hipótese ainda é baixa, mas se o Sete de Setembro se tornar um grande movimento golpista, Lula pode ser o maior beneficiário.